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Agora a Sério

Um local sério para se falar das coisas sérias de todos os dias. Só para pessoas que se levam muito a sério.

Agora a Sério

Um local sério para se falar das coisas sérias de todos os dias. Só para pessoas que se levam muito a sério.

Lembra a mim

amaralrita, 16.09.15

Para além da dislexia, há outro fenómeno linguístico que me afecta: o brasileirismo.

É engraçado quando utilizamos aquelas expressões para cumprimentar os amigos: "Eaé galera!", "oi, garoto, tudo bem?" "tou nem aí", "gentxi, vamo embora". Vá isto até passa, é divertido, tem piada, até parece que ficamos mais bem dispostos.

Mas a bincadeira começa a ir longe de mais quando começamos a assassinar o português e a nossa reputação:

 

"Ela disse a mim que queria ir às compras no sábado"


"Precisas de quê? Ta bem, depois lembra a mim"


"Responde a mim no chat, tá?"

"Foi o que ele disse para dizer a ele"

 

Ai, gentxi, isto é gravíssimo. E o pior é que se pega! É só um do grupo começar a falar mal que aquilo vai tudo em manada fazer a asneira. Dizemos mal, chamamos à atenção mas cinco minutos depois lá está outro a dizer "manda mim o email". Alguém conhece algum comprimido para curar isto ou temos de voltar todos à primária?

Vamos salvar os Lobos Ibéricos

amaralrita, 03.07.15

Eu não sou nada de voluntariados e causas mas se é para salvar animais, o meu coração fica mole. E há uma campanha muito especial que eu não consigo não apoiar.

 

Isto tudo começou quando eu era pequenina, quando os meus professores da primária disseram que era tradição uma turma adoptar um lobo. Yap, isso mesmo, em vez de massacrar os meus pais para ter um cão, eu podia ser madrinha de um lobo - muito mais fixe, não era?

Foi assim que fui várias vezes ao Centro de Recuperação do Lobo Ibérico visitar o Nimrod (eu ainda sei o nome dele, mas já não está cá) e achar que um dia podia levar um lobito para casa. Eu via-os como cãeszinhos de peluche em formato grande e só lhes queria dar uma festinha mas nunca quiseram concretizar o meu sonho de criança - fico triste mas passa.

Obviamente que eu não percebia que estava a contribuir directamente para uma causa, pois os meus pais é que tratavam do assunto. Eu sabia lá que me estavam a educar para ajudar os outros, para ser fofinha para a humanidade. Mas quando nos ensinam coisas em pequenos, elas tocam-nos de outra maneira.

 

Eu gostava tanto dos lobos que, por sugestão dos professores, um Natal em vez de pedir uma Barbie, pedi uma edição especial do Action Man porque uma parte do dinheiro do brinquedo revertia para o CRLI. Os meus pais perguntaram-me muitas vezes se eu queria mesmo um brinquedo para rapaz e eu disse que sim. (a Rita pequena impressiona-me imensas vezes).

 

Os anos foram passando e as coisas esquecem-se mas a Internet tem um poder fantástico de nos relembrar de tudo. Esta semana, vi que está a decorrer uma campanha online para financiar o CRLI, no Indiegogo.

 

lobo.jpg

 

Mal vi a campanha nem pensei duas vezes.

Não sei se é por ser a causa que é, se é da idade que ficamos mais sentimentalistas, se eu afinal tenho um coração de ouro e gosto de distribuir dinheiro por aí. Só sei que tinha de dar alguma coisa, contribuir alguma coisa, porque falando racionalmente, estamos a contribuir para salvar uma espécie em vias de extinção, a manter um espaço ecológico aberto e também a manter empregos de muitas pessoas (quem não quer manter o emprego neste país, né?). Em pequenina, contribuia e davam-me um brinquedo, em adulta, eu contribuo e fico com o coração cheio - ai como eu fico lamechas a ajudar animaiszinhos.

 

Meus caros, agora a sério, eu não vou estou a pedir nada - eu estou a exigir-vos que façam qualquer coisa. Ponham no Facebook, dêem cinco euros, gastem as poupanças nisto, adoptem um lobo, passem uma tarde lá no sítio, eu sei lá. Hoje é sexta-feira, por isso, façam a vossa boa acção do dia e ficam o resto Verão descansados. Um click muito rápido aqui, vá, antes de irem almoçar, não custa nada.

 

 

Se as mulheres mandassem no futebol

amaralrita, 17.06.15

Eu sou mulher e não sou fã de futebol. Reviro os olhos de cada vez que os homens ameaçam que vão entrar numa discussão sobre o pé esquerdo do jogador do Benfica e a transferência do jogador do Porto para um clube qualquer da Europa. Estou a escrever isto e só me lembro do nome Jackson Martinez - não faço puto de ideia de quem seja mas tem ganda nome.

 

O que me faz não ser fã de futebol é o facto de ninguém perceber que eu sou uma excelente treinadora de bancada. Eu não vejo futebol mas percebo de várias coisas e todos os comentários que faço são bastante bons. Eu só não vejo muitos jogos porque passo-me da cabeça porque como é que é assim tão difícil 22 homens em campo não conseguirem meter uma bola dentro de uma rede em 90 minutos? Isso dá para arranjar o cabelo, enquanto se pinta as unhas, mete-se uma máscara de beleza no rosto e ainda dar uns golinhos no suminho verde. É só chutar, não percebo o drama.

 

Se as mulheres mandassem no futebol, isto era uma coisa muito mais fácil, os clubes passavam dos 100 pontos, o Ronaldo marcava 3 golos por jogo, o árbitro não fazia o que lhe apetecia, os adeptos só bebiam champagne e se aos 90 minutos e um segundo a nossa equipa estivesse a perder, parava-se o jogo para recomeçar noutro dia, porque eu não vou perder tempo para ver a minha equipa a perder, não é?

 

E se pensam que as mulheres não percebem nada de futebol, tenho-vos a dizer que qualquer mulher que eu conheço fã de futebol punha o Pinto da Costa a chorar no colinho da mamã. Porque nós sabemos imensas coisas (sim, homens, nós sabemos o que é um Fora de Jogo, não precisam de explicar isso pela milésima vez, num bar, com cinco Super Bocks à frente a explicar a táctica da coisa) e se mandássemos nisto tudo, as coisas funcionavam da seguinte forma:

 

Tudo é falta, tudo dava direito a amarelo, até uma festinha na cara;

 

O jogador preferido é aquele que é mais giro. Quando estão a cantar o hino ou nos primeiros cinco minutos, a gente fica com um debaixo de olho e já está, é o melhor jogador do mundo.

 

Ah sim e eles só conseguem ser bonitos dentro de campo, vermelhos e com trinta litros de suor a brilhar no corpo. Se fossemos ver ao perto, continuavam a parecer como o Beckham no Real Madrid com brincos nas orelhas (coitadinho, já passou, pronto).

 

Nós também não olhamos só para um. Nós temos tempo e disponibilidade para inspeccionar toda a equipa, no relvado e no Instagram, porque fã que é fã conhece a equipa a fundo, já que a Sara Carbonero é tão importante quanto o Casillas.

 

Nós torcemos pela equipa e somos tão tão tão fiéis que parte-nos o coração quando os jogadores perdem a cabeça e fazem um corte de cabelo horrível. Se eu fosse casada com ele, a ver se ele fazia destas coisas, é o que eu penso;

 

Nós damos instruções claras - passar a bola para quem está sozinho mas os homens seguem a manada e depois admiram-se que perdem a bola. Mas porque é que é que não mandam a bola para onde não está ninguém?

 

Ninguém se arma em Rei da Selva e enfrenta dez defesas sozinho. Parem de ser o Tarzan e querer passar por cinco macacos com a bolinha nos pés. Filho, nós adoramos-te, mas não és o Ronaldinho, pára com isso;

 

A bola só serve para chutar, e não para dar beijinhos e festinhas. 20 minutos de jogo e ainda não há golos? Os milhões de euros gastos em Ibiza têm de passar recibo no campo;

 

Se a equipa estiver a perder por três golos, paramos o jogo, ligamos ao Ronaldo, esperamos que ele chegue, damos dez minutos de compensação e esperamos que ele resolva a palhaçada. Se ele não puder, esperamos pelo Neymar, mas nada de Messis.

 

Se faltarem dez minutos para o final e estamos a perder, tudo passa a ser penalty: penalty a meio campo, penalty na lateral, penalty quando roçam as pernas, penalty quando um jogador parece que vai cair no chão. Só pedimos um penalty, não custa muito;

 

Se for auto-golo, depois de anularmos obviamente, temos duas hipóteses: se for um guarda-redes fofinho, ainda lhe puxamos a moral, se for o Casillas é olho da rua.

 

O árbitro é o Diabo: cego, surdo, mudo, estrábico, esquizofréncio, disléxico, com problemas de fígado e com uma mulher feiosa que usa botox há décadas. Não serve para nada, claro;

 

 

Se a FPF me quiser contactar para mudarmos as regras do jogo, eu dou os conselhos de borla, que não quero ser presidente nem ter bilhetes - apenas quero um serviço especial com motorista quando a Segunda Circular entupir para não ficar presa no trânsito.