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Agora a Sério

Um local sério para se falar das coisas sérias de todos os dias. Só para pessoas que se levam muito a sério.

Agora a Sério

Um local sério para se falar das coisas sérias de todos os dias. Só para pessoas que se levam muito a sério.

Os homens não são todos iguais

amaralrita, 28.03.16

Esta é a história que prova que os homens não são todos iguais - ah e também é a história do Francisco:

 

Isto aconteceu há uns anos atrás, estava na faculade, no refeitório, a ler uns textos no meu tablet. Ia para uma conferência às 18h e tinha chegado cedo para estudar antes. E li tudo o que tinha para ler e quando olhei para o relógio, eram 17h. Poças, ainda falta uma hora, o que é que eu vou fazer?

Uns dois minutos depois, vejo uns rapazes a levantarem-se de uma mesa próxima a prepararem-se para ir embora. Eu voltei a brincar com o tablet e alguém me chama:

- Desculpa, está aqui alguém?

- Não, é na boa.

- Posso-me sentar?

Um rapaz com uma tshirt vermelha a dizer "eu não tenho facebook" senta-se do outro lado da mesa mas perto de mim. O resto da mesa estava completamente vazio mas ele sentou-se ao pé de mim.

- Olá, eu sou o Francisco.

- Olá, Francisco.

- Então tudo bem? Que estás a ler?

- Estava a ler mas agora já acabei.

- És de que curso?

 

Em qualquer outra parte do planeta, qualquer outra mulher teria mandado o moço ir dar uma volta e não aturaria "aquele" chato. Mas apeteceu-me testá-lo, apeteceu-me ver até onde ia a conversa dele e fui na conversa e comecei a responder às suas perguntas.

E assim começou uma longa conversa de duas horas. O Francisco fazia muitas perguntas, eu respondia e perguntava logo de seguida o mesmo. Foi uma conversa de tudo e nada e uma conversa super natural:

- Não acredito que estou a falar contigo - ele disse-me

- Porque dizes isso?

- Porque eu hoje decidi que ia falar contigo mas não sabia se ias falar comigo.

- Mas decidiste vir falar comigo assim do nada?

- Não, eu já te tinha visto umas vezes aqui na faculdade.

- A sério?

- Sim, vi-te no outro dia e depois há dois dias atrás estavas com um casaco branco. Eu vi-te, achei-te muito gira, e olha hoje vi-te sozinha e decidi vir falar contigo. Ou era hoje ou não era.

- Uau.

- Deves-me achar ridículo.

- Não, por acaso acho muito bacano.

- A sério?

- Sim, quantos gajos é que vêem uma gaja que acham gira e vão lá falar com ela? Isso é ter coragem.

- Fogo, se soubesse que ias dizer isso, já te tinha ido falar há bué.

- Mas só soubeste isso quando me vieste falar não é?

 

E lá tivémos uma conversa em que falámos de tudo, da vida dele, da minha vida, de música, dos AC/DC, de religião, bem de tudo e mais alguma coisa. Acabámos a nossa discussão a falar de aborto e eu já atrasada para a conferência.

 

Isto aconteceu uma vez na vida, por isso agora não vão para aí dizer que eu dou conversa a toda a gente, não é? É apenas uma história engraçada que por acaso aconteceu e que vou contar aos netos e da qual me vou sempre rir. Porque é que falei com ele? Não sei, apeteceu-me, queria falar com pessoas, queria entreter-me, estava inspirada, estava bem disposta, apeteceu-me. E foi uma óptima grande conversa, foi uma boa hora passada. E foi daqueles momentos que ficam para a história. Porque é daquelas histórias que contado ninguém acredita.

 

E ficou-me também uma lição para a vida: os homens às vezes não falam com mulheres porque têm medo da rejeição. Os homens também têm medo de levar tampas! Mas para homens e mulheres, aqui fica o conselho: se nunca tentarem falar com o gajo giro ou com a gaja boazona, nunca vão saber se poderiam ter passado duas belas horas a falar com um desconhecido simpático. E para as desconfiadas que acham que os homens só querem cama, acreditem que os homens não são todos iguais: a dificuldade está em apanhá-los num momento de inspiração e que se dêem a conhecer. E isso acontece num dia, por acaso. Por isso, "esperem" por esse dia, meus caros, um dia isso vai acontecer. E no entretanto riam-se dos falhados que metem conversa com vocês, porque esses dão ainda mais histórias.

O meu novo cabide

amaralrita, 08.02.16

É daqueles episódios em que discordam de mim e depois vai-se a ver e tenho razão - e esse é um dos momentos mais felizes da minha vida.

 

É preciso comprar um novo armário para o quarto porque uma pessoa cresce e precisa de espaço para por a roupa. Eu sempre disse «vamos comprar um daqueles cabides com rodas que existem nas lojas, assim é só ter a roupa à mostra e utilizamos tudo à mesma».

 

Mas nunca me ligaram, nunca quiseram saber da minha ideia, preferiam gastar horas no website do IKEA a ver soluções quadradas, de madeira, armários grostescos que nada de moderno tem.

Eu queria algo fresco, simples, económico. Mas ninguém me ouviu.

Até que o armário pifou. O corrimão onde se prendia a roupa caiu com o peso. E foi assim, de repente, num domingo à noite.

 

Pronto e agora temos quilos de roupa para pendurar e as coisas não podem ficar assim.

O que se faz então?

Vai-se ao espaço casa comprar um cabide...o cabide que a Rita sempre disse que era melhor comprar...o cabide que é prático e barato.

É SÓ UMA SOLUÇÃO TEMPORÁRIA, disseram, porque o armário do IKEA ia ser comprado. Aquilo não era a solução para o problema do armário.

 

Mas eu já não queria ligar. Montaram aquilo no meu quarto e eu não quero outra coisa. Namoro-o todos os dias que olho para a minha roupa. É lindo, é perfeito, é da moda, é de cinema, é de parecer que entro no quarto e estou no armário privado da Vogue, é parecer que tenho mais roupa do que o normal, é parecer que estou na loja de roupa a comprar coisas, é parecer que até tenho roupa de jeito.

 

Isto já dura há duas semanas e no outro dia, ao deitar, tive a realização dos meus sonhos. «Olha, tinhas razão, foi uma boa compra. Isto até dá jeito».

 

Por isso aqui fica o meu conselho para todas as mulheres: lixem o armário e comprem uma coisa destas, que não há coisa mais linda do mundo.

 

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A saga das compras

amaralrita, 30.11.15

Ah a Black Friday, ah o Natal, ah vamos às compras todos os dias porque nos apetece e tudo está com desconto e tudo é lindo.

Ah como era bom se isto tudo fosse verdade, porque meter-me num centro comercial nestas semanas devia ser o maior prazer da vida mas é uma tortura.

Mete-se a pata no local e sorrimos: agora sim, vamos começar a divertirmo-nos. E começamos o processo de compras.

 

Fase 1: leva-se tudo

Entramos na primeira loja e parece o Mundo Encantado dos Brinquedos, perfeito para princesas. Passamos então ao ataque e entramos no pesadelo. OH MEU DEUS, quero levar tudo: quero aquilo, aquilo de que preciso, aquilo de que preciso em doze cores, aquilo que tenho sete peças iguais no armário, aquilo que nunca utilizei na vida, aquilo de que eu não gosto, aquilo de que eu nunca vou gostar, aquilo naquela cor horrível que eu detesto. Não interessa se só existe o XXXL ou o XXS, eu quero levar tudo, eu vou levar tudo.

 

Fase 2: olhar para a carteira

Com tanta maravilha para os olhos começamos a olhar para a carteira: beeem, tudo, tudo, não pode ser, mas há algumas coisas que podemos levar, certo? Olhamos para o relógio, temos de nos despachar, as pessoas vão começar a levar tudo portanto esta é a hora de atacar. Pensamos mentalmente nas peças de que precisamos e daquelas que gostávamos de experimentar. E lá vamos nós.

 

Fase 3: tudo vale

Agora é a altura de pôr tudo nas mãos: Camisola branca? check. Casaco de inverno? Check. Botas altas, botas curtas, check, tshirts que podem dar jeito no próximo verão check, check check check. E siga para os provadores, mas na fila lembramo-nos: só podemos levar 8 peças. E implementa-se a estratégia do o que-se-experimenta-e-o-que-se-leva-para-experimentar. E o resto? O resto vai para o provador lá de casa não tem limite logo algumas peças experimentam-se em casa e outras na loja. E se não gostar? 30 dias para devolver - e esta é a maravilha do capitalismo ocidental europeu, meus caros, aproveitem.

 

Fase 4: ficar horas no provador

E agora sim começa a diversão...se as coisas corressem bem...

Ui isto não me fica bem...mas é com estas calças e se for com as calças que trouxe?

E um vestido? Se calhar preciso de ir buscar um vestido...

Ah raios preciso de um básico a ver como é que fica isto...

Será que isto fica bem com aquele colete que eu não uso há dois anos? Nunca se sabe...

Eu tenho mais tshirts pretas ou brancas? Quantos pares de calças é que tenho? Estas estão com desconto mas tem de ser o tamanho acima...

Entramos e saímos dos provadores, trocamos peças que as meninas dos provadores estão a arrumar, pedimos para nos ir buscar o tamanho acima e abaixo só para comparar.

Meia hora depois, de vestir e despir as mesmas peças dez vezes, de combinar e descombnar, cheia de calor, com os cabelos em pé e farta de olhar para o espelho, temos umas 4 peças para levar.

 

Fase 5: a consciência acorda

Lá vamos nós, a sair do provador, com quatro peças na mão, com sorte uma delas é o que realmente fomos comprar e o resto é o que se apanhou.

Estamos quase, só falta a caixa. Mas o problema é que na caixa se demora muito tempo e ficamos muito tempo a olhar para as peças...

as peças que nós vamos comprar...

as peças que são nada do que nós queríamos...

as peças que não são maravilhosas...

E começam as dúvidas...

Será que levo isto?

Será que quero mesmo isto? Bah, isto não está assim tão barato quanto eu pensava.

 

De repente entramos na fase 6...o cérebro começa a funcionar, a consciência aparece, o racionalismo intervém e pensamos "para que vou gastar dinheiro nisto se já tenho isto tudo?"

E entramos na fase 7: olhamos para o lado, saímos da fila, deixamos tudo na primeira prateleira e vamos embora.

 

A tristeza de um dia de compras que não foi.

A tristeza de um sonho perfeito que ficou arruinado porque não há nada de jeito.

A tristeza de uma paixão que não se concretizou porque não se encontrou a cara metade perfeita.

A tristeza de uma manhã passada à procura de algo quando o que se realmente queria era que nos oferecessem uma mala Chanel para ficarmos com a vida feita.

 

Ai ai

 

Tanto se experimentou mas não se gostou de nada.

Mas não aceitamos a derrota! Vamos encontrar algo de jeito.

Saímos da loja, entramos na próxima mas nada parece o mesmo. As compras já não são cor-de-rosa, as botas já não brilham, os cachecóis parecem mantas de retalho, as malas parecem sacos de pano.

Mas continuamos à procura, à procura, à procura...até que paramos, abrimos os olhos e lembramo-nos:

"Posso sempre comprar um McFlurry!"

 

E lá vamos nós, antes de almoço, a correr para o McDonalds afogar as mágoas num gelado, porque um gelado cheio de calorias deixa-nos ricos e prontos para enfrentar um dia com roupas tão demodé que até uma pessoa mal vestida iria olhar-nos de esguelha.

 

Gostar de compras não é fácil, fica aqui escrito, a desforra está para vir.

 

50 coisas que pensas quando vais de viagem

amaralrita, 09.11.15

As etapas de um longo processo para se ir de viagem, no sabádo de manhã e voltar domingo à noite.

(na véspera)

1. Boa vou de viagem taaao bom

2. Que seca tenho de fazer a mala

3. É melhor fazer de véspera

4. O que é que eu levo?

5. Vai chover ou vai estar frio? E se tiver chuva e frio?

6. Botas ou ténis?

7. Posso levar uns saltos altos de reserva?

8. E vestido? Se levar uns collants grossos não apanho frio

9. Quantas cuecas é que preciso para 1 noite?

10. Vou estrear a minha camisola nova

11. E as calças

12. E as botas

13. Botas altas ou curtas?

14. Bem, isto já está muita coisa, se calhar arrumo amanhã

 

(na manhã seguinte)

15. Eish tenho de fazer a mala

16. Onde é que está o meu champô?

17. E o creme da cara, e das mãos, e do corpo? E o sérum e a base e o creme de noite?

18. NÃO me posso esquecer do pijama

19. Pronto, agora vai tudo lá para dentro

20. A mala é demasiado pequena, preciso de outra maior

21. Yes esta cabe tudo....

22. ...se eu não levar 4 pares de botas

23. Se calhar levo só estas

24. E deixo isto

25. E isto

26. E isto (uma tshirt em Novembro dá jeito a alguém?)

27. Pronto, cabe quaaaase tudo

28. Nop, não cabe o casaco

29. Troca de mala

30. Mas aquela é demasiado grande

31. Então tira mais coisas

32. Proooonto a camisola nova fica cá

33. Yes, está tudo, conseguimos e ainda temos tempo para tomar o pequeno-almoço

 

(20 minutos depois)

34. Pronto, last round check

35. Abrir a mala e espreitar: tá, tá, tá, tá, tá tudo óptimo

36. Escolher cd's para a viagem

37. Hmmm este pode ir, este também e o outro também

38. Esta caixa está vazia, será que já está no carro ou está na aparelhagem do quarto?

39. Estamos atrasados

40. Pronto, não interessa lá vamos nós

41. Vestir casaco, por mochila às costas, mais uns sacos, buscar uns snacks, mega garrafa de água, fechar a casa e siga

 

(no carro)

42. " Trouxeste isto?"
43. "Sim" (yap, não falhei)

44. "E aquilo?"
45. "Também" (ainda bem que espreitei a mala antes de sair)

46. "a  bolsa vai na mala lá atrás?"
47. "Sim está tudo" (que profissionais!)

 

(na auto-estrada a 1 hora de viagem)

48. Trouxe os livros para estudar?

49. Trouxe escova de dentes?

 

E o último pensamento que acontece demasiadas vezes

50. Merda, aposto que me esqueci do pijama.

 

Os mistérios da minha mala

amaralrita, 13.10.15

Já vos falei aqui da minha grave doença com malas, mas nunca vos disse a causa deste mal.

Bem, não existe grande mistério quanto à causa: eu sou mulher logo a mala é um objecto sagrado que nos salva de tudo. Se as mulheres não andassem com malas, não seríamos esses seres superiores que andam sempre prevenidas. No entanto, há mulheres prevenidas e depois há pessoas a roçar a loucura, como eu. Mas há um pormenor bastante importante: a minha mala é do povo.

Eu literalmente ando com a casa de alça no ombro porque há sempre qualquer coisa de que eu preciso ou de que os outros precisam (porque aparentemente eu sou tão simpática que o que é meu é do povo). Mas então o que é que leva a minha mala?

 

Primeiro há os básicos: lenços de papel, chaves de casa, chaves do carro ou passe, batom do cieiro, tanta coisa. E esses estão perdidos na mala, porque na carteira, há trezentos cartões para fazer compras, cartões de passe, montes de recibos de 65 cêntimos, papelinhos que eu não sei bem onde nasceram, moedas, pen drives, anéis e outros objectos sem sentido. Mas isto é apenas o básico.

 

Depois não é só os óculos de sol, é a caixa dos óculos de sol, que depois dos desastres passados, tem de ser à prova de bala. É às florzinhas e não cabe em nenhuma pochete, logo tenho de andar de mala.

 

Depois é o tablet. Ter um telemóvel já não chega, eu sou uma pessoa muito ocupada e não quero ficar pitosga aos 25 anos. Quando é preciso trabalhar, uma pessoa séria como eu tem de estar sempre preparada.

 

Depois a garrafa de água. Garrafas de meio litro, às vezes duas ou três, ou só uma de um litro. E às vezes mais uma garrafa com chá. São pancas de pessoas saudáveis, sabem?

 

Depois são as bolachas, já que pessoa saudável anda sempre com a marmita atrás. A minha mala já é uma segunda despensa, vai tudo lá para dentro, com migalhas à mistura.

 

Depois é o creme para as mãos. Eu não gosto nada de andar com mariquices destas mas ultimamente têm dado jeito logo vão para a mala.

 

Depois é o verniz das unhas. Estão a ver aqueles dias em que a unha ficou mal pintada e saímos de casa a correr e não conseguimos acabar? Pois mais vale levar para o trabalho que arranjamos cinco minutos na hora de almoço para cobrir os estragos.

 

Depois é a bolsinha da maquilhagem. Mais uma vez, acordou-se tarde, não há tempo, temos um jantar logo à noite, borramos o eyeliner a coçar os olhos de manhã, a base não ficou bem espalhada, tanto faz, mas é preciso andar com maquilhagem.

 

Depois é o carregador portátil. Já estamos no século XXI e a desculpa do "fiquei sem bateria" já não cola. Pessoas importantes têm de estar sempre contactáveis!

 

E depois temos os visitantes que aparecem de vez em quando: a máquina fotográfica, o jornal Metro, as revistas, o bloco de notas, ténis, sabrinas e mais e mais coisas para que a minha mala fique maior que o Godzilla.

 

Eu vivo assim há anos e juro que tenho tentado combater a doença mas quando eu começo a tentar reduzir as coisas que levo dentro da mala, há sempre um raio de um amigo qualquer, seja de manhã ou à noite, que começa a pedir coisas e o povo vai todo atrás e também começa a pedir: "Tens isqueiro? Tens pastilhas? Tens troco de 5 euros? Tens o teu carregador? Tens trocos? Tens uma pen? Tens uma caneta? Tens uma folha?"

 

A minha mala faz inveja ao Doraemon e à sua bolsinha. Qualquer dia ando com uma bola de bowling, um teclado, um quadro de apresentações, uma lâmpada, um berbequim, um escadote, um balde de tinta, sei lá onde é que isto vai parar. A culpa não é minha porque eu até queria deixar estes maus hábitos mas são os outros que puxam por mim, a querer dar-me alguma utilidade nesta sociedade.

 

Se calhar isto ainda vira negócio, olhem só as pessoas pagarem-me para andar com as coisas delas! Daqui a uns meses digo-vos como correu.