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Agora a Sério

Um local sério para se falar das coisas sérias de todos os dias. Só para pessoas que se levam muito a sério.

Agora a Sério

Um local sério para se falar das coisas sérias de todos os dias. Só para pessoas que se levam muito a sério.

A fazer a mala de viagem

amaralrita, 02.05.16

Viagens, viagens, viagens: é tão bom viajar! Por aqui fazem-se uns quantos fins-de-semana fora, na cidade ou no campo, mas desta vez vamos à séria: vamos 6 dias e vamos de avião!

 

Óbvio que o entusiasmo é total. Vamos de viaaaaagemmmmm! Conhecer pessoas, novos lugares, novas cervejas, novos menus no McDonalds, novas línguas, novas temperaturas, novas modas, sei lá é taaaao bom passear.

Mas há um grande problema em qualquer viagem - o fazer a mala. É que eu não percebo nada de malas de viagem. Eu sou péssima a fazer malas de viagem, é um perfeito dilema para mim.

 

Vamos 6 dias: então leva-se roupa para 6 dias ou para 4 e depois repete-se?

Levo dois pares de calças ou levo três para escolher?

Ténis para passear, claro, mas e se formos sair à noite? Uns saltos altos ou umas botas rasas?

E casacos? É preciso levar casacos? A Primavera deles é tipo a nossa ou tipo Alásca?

Posso levar tops de alças e um casacão de inverno ou posso confiar que a Primavera é igual para todos?

Levo mochila para passear? E a mala para sair à noite?

Quantas bases posso levar? Duas é demais?

Levo o dobro das meias ou o triplo?

Durmo de pijama de verão ou de Inverno? É que não sei se as camas têm bons cobertores.

E se for preciso levar saco de cama?

 

São imensas questões, não são? É super divertido arrumar e escolher roupa quando não se tem jeito nenhum para a coisa né? Quer dizer, eu sei escolher roupa, eu tenho um estilo impéc mas como é que eu posso só levar 1/10 do meu armário? É que não posso voltar para trás e escolher outra roupa. E se eu levo calças de ganga e num dia acordo e apetece-me andar chique? E se eu levo sabrinas e apetece-me andar de botas? Como é que se resolve isto?

 

Depois de muito pensar, de retirar o armário todo cá para fora, de criar montinhos e montinhos em cima da cama eu activo o Plano J:

"JOAAAAAAAANA, PODES FAZER-ME A MALA PARA LEVAR?"

 

A mana aparece, vê os montinhos, pega peça a peça e pergunta "vais levar isto? não queres levar aquilo?" e eu sentadinha a beber chá em cima da cama a dizer que sim ou não. 20 minutos depois a mala está fechada, cheia, com um espaçinho para uma coisa ou outra e voilá.

 

Juro que um dia vou ser mais adulta, mais independente, mais sábia - mas eu nunca vou conseguir fazer uma mala de viagem de jeito.

 

A saga das compras

amaralrita, 30.11.15

Ah a Black Friday, ah o Natal, ah vamos às compras todos os dias porque nos apetece e tudo está com desconto e tudo é lindo.

Ah como era bom se isto tudo fosse verdade, porque meter-me num centro comercial nestas semanas devia ser o maior prazer da vida mas é uma tortura.

Mete-se a pata no local e sorrimos: agora sim, vamos começar a divertirmo-nos. E começamos o processo de compras.

 

Fase 1: leva-se tudo

Entramos na primeira loja e parece o Mundo Encantado dos Brinquedos, perfeito para princesas. Passamos então ao ataque e entramos no pesadelo. OH MEU DEUS, quero levar tudo: quero aquilo, aquilo de que preciso, aquilo de que preciso em doze cores, aquilo que tenho sete peças iguais no armário, aquilo que nunca utilizei na vida, aquilo de que eu não gosto, aquilo de que eu nunca vou gostar, aquilo naquela cor horrível que eu detesto. Não interessa se só existe o XXXL ou o XXS, eu quero levar tudo, eu vou levar tudo.

 

Fase 2: olhar para a carteira

Com tanta maravilha para os olhos começamos a olhar para a carteira: beeem, tudo, tudo, não pode ser, mas há algumas coisas que podemos levar, certo? Olhamos para o relógio, temos de nos despachar, as pessoas vão começar a levar tudo portanto esta é a hora de atacar. Pensamos mentalmente nas peças de que precisamos e daquelas que gostávamos de experimentar. E lá vamos nós.

 

Fase 3: tudo vale

Agora é a altura de pôr tudo nas mãos: Camisola branca? check. Casaco de inverno? Check. Botas altas, botas curtas, check, tshirts que podem dar jeito no próximo verão check, check check check. E siga para os provadores, mas na fila lembramo-nos: só podemos levar 8 peças. E implementa-se a estratégia do o que-se-experimenta-e-o-que-se-leva-para-experimentar. E o resto? O resto vai para o provador lá de casa não tem limite logo algumas peças experimentam-se em casa e outras na loja. E se não gostar? 30 dias para devolver - e esta é a maravilha do capitalismo ocidental europeu, meus caros, aproveitem.

 

Fase 4: ficar horas no provador

E agora sim começa a diversão...se as coisas corressem bem...

Ui isto não me fica bem...mas é com estas calças e se for com as calças que trouxe?

E um vestido? Se calhar preciso de ir buscar um vestido...

Ah raios preciso de um básico a ver como é que fica isto...

Será que isto fica bem com aquele colete que eu não uso há dois anos? Nunca se sabe...

Eu tenho mais tshirts pretas ou brancas? Quantos pares de calças é que tenho? Estas estão com desconto mas tem de ser o tamanho acima...

Entramos e saímos dos provadores, trocamos peças que as meninas dos provadores estão a arrumar, pedimos para nos ir buscar o tamanho acima e abaixo só para comparar.

Meia hora depois, de vestir e despir as mesmas peças dez vezes, de combinar e descombnar, cheia de calor, com os cabelos em pé e farta de olhar para o espelho, temos umas 4 peças para levar.

 

Fase 5: a consciência acorda

Lá vamos nós, a sair do provador, com quatro peças na mão, com sorte uma delas é o que realmente fomos comprar e o resto é o que se apanhou.

Estamos quase, só falta a caixa. Mas o problema é que na caixa se demora muito tempo e ficamos muito tempo a olhar para as peças...

as peças que nós vamos comprar...

as peças que são nada do que nós queríamos...

as peças que não são maravilhosas...

E começam as dúvidas...

Será que levo isto?

Será que quero mesmo isto? Bah, isto não está assim tão barato quanto eu pensava.

 

De repente entramos na fase 6...o cérebro começa a funcionar, a consciência aparece, o racionalismo intervém e pensamos "para que vou gastar dinheiro nisto se já tenho isto tudo?"

E entramos na fase 7: olhamos para o lado, saímos da fila, deixamos tudo na primeira prateleira e vamos embora.

 

A tristeza de um dia de compras que não foi.

A tristeza de um sonho perfeito que ficou arruinado porque não há nada de jeito.

A tristeza de uma paixão que não se concretizou porque não se encontrou a cara metade perfeita.

A tristeza de uma manhã passada à procura de algo quando o que se realmente queria era que nos oferecessem uma mala Chanel para ficarmos com a vida feita.

 

Ai ai

 

Tanto se experimentou mas não se gostou de nada.

Mas não aceitamos a derrota! Vamos encontrar algo de jeito.

Saímos da loja, entramos na próxima mas nada parece o mesmo. As compras já não são cor-de-rosa, as botas já não brilham, os cachecóis parecem mantas de retalho, as malas parecem sacos de pano.

Mas continuamos à procura, à procura, à procura...até que paramos, abrimos os olhos e lembramo-nos:

"Posso sempre comprar um McFlurry!"

 

E lá vamos nós, antes de almoço, a correr para o McDonalds afogar as mágoas num gelado, porque um gelado cheio de calorias deixa-nos ricos e prontos para enfrentar um dia com roupas tão demodé que até uma pessoa mal vestida iria olhar-nos de esguelha.

 

Gostar de compras não é fácil, fica aqui escrito, a desforra está para vir.

 

Os mistérios da minha mala

amaralrita, 13.10.15

Já vos falei aqui da minha grave doença com malas, mas nunca vos disse a causa deste mal.

Bem, não existe grande mistério quanto à causa: eu sou mulher logo a mala é um objecto sagrado que nos salva de tudo. Se as mulheres não andassem com malas, não seríamos esses seres superiores que andam sempre prevenidas. No entanto, há mulheres prevenidas e depois há pessoas a roçar a loucura, como eu. Mas há um pormenor bastante importante: a minha mala é do povo.

Eu literalmente ando com a casa de alça no ombro porque há sempre qualquer coisa de que eu preciso ou de que os outros precisam (porque aparentemente eu sou tão simpática que o que é meu é do povo). Mas então o que é que leva a minha mala?

 

Primeiro há os básicos: lenços de papel, chaves de casa, chaves do carro ou passe, batom do cieiro, tanta coisa. E esses estão perdidos na mala, porque na carteira, há trezentos cartões para fazer compras, cartões de passe, montes de recibos de 65 cêntimos, papelinhos que eu não sei bem onde nasceram, moedas, pen drives, anéis e outros objectos sem sentido. Mas isto é apenas o básico.

 

Depois não é só os óculos de sol, é a caixa dos óculos de sol, que depois dos desastres passados, tem de ser à prova de bala. É às florzinhas e não cabe em nenhuma pochete, logo tenho de andar de mala.

 

Depois é o tablet. Ter um telemóvel já não chega, eu sou uma pessoa muito ocupada e não quero ficar pitosga aos 25 anos. Quando é preciso trabalhar, uma pessoa séria como eu tem de estar sempre preparada.

 

Depois a garrafa de água. Garrafas de meio litro, às vezes duas ou três, ou só uma de um litro. E às vezes mais uma garrafa com chá. São pancas de pessoas saudáveis, sabem?

 

Depois são as bolachas, já que pessoa saudável anda sempre com a marmita atrás. A minha mala já é uma segunda despensa, vai tudo lá para dentro, com migalhas à mistura.

 

Depois é o creme para as mãos. Eu não gosto nada de andar com mariquices destas mas ultimamente têm dado jeito logo vão para a mala.

 

Depois é o verniz das unhas. Estão a ver aqueles dias em que a unha ficou mal pintada e saímos de casa a correr e não conseguimos acabar? Pois mais vale levar para o trabalho que arranjamos cinco minutos na hora de almoço para cobrir os estragos.

 

Depois é a bolsinha da maquilhagem. Mais uma vez, acordou-se tarde, não há tempo, temos um jantar logo à noite, borramos o eyeliner a coçar os olhos de manhã, a base não ficou bem espalhada, tanto faz, mas é preciso andar com maquilhagem.

 

Depois é o carregador portátil. Já estamos no século XXI e a desculpa do "fiquei sem bateria" já não cola. Pessoas importantes têm de estar sempre contactáveis!

 

E depois temos os visitantes que aparecem de vez em quando: a máquina fotográfica, o jornal Metro, as revistas, o bloco de notas, ténis, sabrinas e mais e mais coisas para que a minha mala fique maior que o Godzilla.

 

Eu vivo assim há anos e juro que tenho tentado combater a doença mas quando eu começo a tentar reduzir as coisas que levo dentro da mala, há sempre um raio de um amigo qualquer, seja de manhã ou à noite, que começa a pedir coisas e o povo vai todo atrás e também começa a pedir: "Tens isqueiro? Tens pastilhas? Tens troco de 5 euros? Tens o teu carregador? Tens trocos? Tens uma pen? Tens uma caneta? Tens uma folha?"

 

A minha mala faz inveja ao Doraemon e à sua bolsinha. Qualquer dia ando com uma bola de bowling, um teclado, um quadro de apresentações, uma lâmpada, um berbequim, um escadote, um balde de tinta, sei lá onde é que isto vai parar. A culpa não é minha porque eu até queria deixar estes maus hábitos mas são os outros que puxam por mim, a querer dar-me alguma utilidade nesta sociedade.

 

Se calhar isto ainda vira negócio, olhem só as pessoas pagarem-me para andar com as coisas delas! Daqui a uns meses digo-vos como correu.

Olá, eu sou a Rita e sou Mala-ólica

amaralrita, 06.04.15

Tenho uma confissão a fazer: sou viciada em comprar malas. Eu sou Mala-ólica.

Não deve ser grande surpresa: sou mulher, gosto de fazer compras e nos últimos anos tive o meu despertar para a moda. E como qualquer mulher estou sempre a ganhar e a perder peso, logo os melhores investimentos do mundo são sapatos (sou um perfeito 37, sem peito do pé inchado ou pé largo, comprar sapatos na internet é um dos prazeres da vida!) e malas. 

Oh, as malas.

Toda a gente cá em casa já faz a pergunta "outra mala? mas quantas malas tens?". Todas as semanas sento-me na mesa da sala ao computador e tenho 3 malas ao meu lado, no chão, e usei-as todas numa semana. Porque uma é mais pequena e tem uma alça maior mas a outra dá mais jeito se é para levar muitas coisas. Mas no outro dia ia tomar café com uma amiga e queria levar aquela mala tcharan que comprei na internet. E não nos podemos esquecer que a mochila é a coisa mais prática do mundo para fazer longas caminhadas. 

Sim, admito: tenho um problema com malas. Mas sinceramente todas as mulheres têm um problema com compras, não é? Umas são loucas por sapatos, outras por ténis (ups, guilty again!), outras por lenços de todas as cores e feitios, outras por camisas brancas, outras por saltos altos com mais de 10 cm...eu só sou igual a qualquer outra mulher jovem que se quer pôr bonita, não é?

Mas eu posso explicar, porque o facto de ser apenas Abril e eu já ter comprado 4 malas (!!) tem toda uma história.

Eu faço anos em Dezembro logo tenho a perfeita desculpa para receber mais presentes do que as outras pessoas. Há dois anos, comprei uma mala, a minha irmã deu-me outra no Natal e a minha tia ofereceu-me mais uma. Todas diferentes, mas todas serviam para alguma coisa. Mas pensei para mim «não, isto tem de acabar, no próximo ano, não compro nenhuma mala. 2014 não gasto dinheiro em malas. Ponto».

E meus caros amigos, eu posso dizer que cumpri esta promessa. Em 12 meses do ano, fiz muitas compras mas não gastei dinheiro num shopping bag, numa mochila para os festivais de verão, numa clutch para as saídas à noite. Zero. Nada. RienNothing. Se os outros me ofereceram malas? Ah, mas isso é outra história, é o dinheiro deles, não é o meu, logo não conta.

E, por isso, depois de um ano de celibato pensei que poderia aos poucos voltar à carga mas fazer investimentos em malas específicas e boas. Mas obviamente que a história tinha de correr mal.

Mandei vir a primeiríssima mala da Internet porque já andava à procura de uma mala mais senhora há bastante tempo. Depois de tanta procura lá a encontrei e ela foi usada poucas vezes, porque não a queria estragar no mundo. Foi uma compra simples, rápida, bem pensada e considerando que eu queria uma mala daquelas há quanto tempo, foi uma boa compra. Uma compra clean, por isso estou inocente.

Depois, encontrei uma mochila da Louis Vuitton cá por casa e quis usá-la mais vezes mas estava tão velhinha, tão podre que pensei «se calhar ainda compro uma mochila, porque é chique e dá jeito». E lá mandei vir uma mochila azul escura Long Champ. 

«É LongChamp falsa, então! Mas de longe não se nota! E assim tens uma mochila para as viagens pela Europa, para um concerto de Verão, para um café ao pôr-do-sol. Sim, compra lá isso que vale a pena». Sai a LV, entra a LongChamp e dá imenso jeito.

Só que ela estava a demorar muito tempo a chegar até mim (a culpa é tua, alfândega) e um dia estava a espera de uma amiga minha no Terreiro do Paço, entro na Mango da Rua Augusta e vejo aquela mala preta que queria há meses, aquelas shopping bags simples, sem forma, em que dá para por tudo lá dentro, como se fosse um saco de batatas. E estava 5 euros mais barata.É que não ia deixar escapar! É que meses antes fui de propósito ao Freeport à Mango Outlet buscar o raio da mala e ela não estava lá para me receber. Agora que estava ali à mão de semear e ainda por cima mais barata eu ia dizer que não?

Óbvio que não!

Eu queria-a há meses, ela vai-me durar para toda a eternidade e é uma mala preta, eu podia ir a uma super reunião importante no Four Seasons com um big boss lisboeta qualquer e levar aquela mala que não havia problema nenhum. Não era uma compra, era um investimento para o resto da vida (vamos aprender uma coisa: se uma mala durar mais de 2 anos, ela torna-se uma mala para o resto da vida, mesmo que nunca mais seja usada. Não fui eu que inventei as regras, eu só as pratico!).

Mas o caldo ficou todo entornado neste fim-de-semana de Páscoa. Queria sair de casa, pego no carro, vou ao Dolce Vita, ao outlet gigante do El Cort Inglês e saio de lá com uma mala branquinha linda com flores, uma edição especial do Oscar de La Renta.

Eu repito, eu comprei uma Oscar de La Renta. Eu tenho uma Oscar de La Renta. É uma La Renta low-cost, mas ainda está lá o nome do homem. E eu que estava mesmo a precisar de uma mala branca, uma mala de uma cor leve para este verão, porque a última mala de Verão que eu tive foi uma rafeira cor-de-rosa da Primark. Coitadinha, nem um Verão durou mas eu insisti com ela, porque não ia gastar dinheiro numa mala branca. Mas agora apareceu-me aquela, branquinha, linda, chique, dava com tudo, baratíssima e de um designer fantástico? A mala era mais do que um sonho, mais do que um investimento: a mala era um agora-ou-nunca. 

E pronto, estamos a 6 de abril e eu já tenho quatro malas novas a estrear cada uma melhor do que a outra. E eu ainda queria comprar uma mochila para os festivais de Verão e talvez uma mala a tiracolo para também levar para concertos.

Por favor, alguém que crie uma associação de apoio a pessoas como eu, porque até a minha conta bancária já se quer divorciar de mim. Se tirarem um ano de férias da actividade consumista, por favor, façam um plano de reinserção que se não, dá mau resultado.

 

P.S. - estou-me a sentir mal por ter estes desejos consumistas durante a Páscoa. Para o ano fico quarenta dias sem falar de compras. Ou fazer compras...mas as de supermercado contam, certo?