Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Agora a Sério

Um local sério para se falar das coisas sérias de todos os dias. Só para pessoas que se levam muito a sério.

Agora a Sério

Um local sério para se falar das coisas sérias de todos os dias. Só para pessoas que se levam muito a sério.

Buda, de Karen Armstrong

amaralrita, 28.04.15

É sempre complicado para mim escolher um livro para ler. Tem a ver com o meu estado de humor: se quero ler um clássico da literatura ou se quero algo soft, ou algo divertido, ou algo histórico, ou algo marcante - já para não falar que tenho de escolher se me apetece ler em Português ou em Inglês, o que condiciona bastante a minha escolha final. E cada vez que olho para a quantidade de livros que tenho em casa fico sempre com o mesmo pensamento: com tanta porcaria (salvo seja) como é que eu não consigo escolher um livro qualquer para ler?

 

A falta de tempo ou de paciência ou motivação deixam-me sempre indecisa e acabo por não escolher nada, acabo por passar meses sem ler nada, acabo por perder tempo noutras coisas menos produtivas. Mas este ano tenho de forçar-me a ler mais, a conhecer mais, a viver mais literatura. E nesta última semana forcei-me a ler alguma - e a solução passou por ler uma segunda vez um livro: Buda, de Karen Armstrong.

 

Comprei-o há uns anos atrás porque estava interessada em conhecer mais sobre o Budismo e este livro tem todo o ínfimo pormenor sobre a história da filosofia budista e da sua figura central. Escrito por uma historiadora de religião altamente qualificiada, o livro pode parecer pequeno mas tem mesmo muita informação: até para uma pessoa com tendências jornalísticas, isto até é informação a mais, mas tem de ser, porque os trabalhos académicos são coisas sérias e quando são bem escritos devem ser reconhecidos e recomendados. Depois da introdução extensa, o livro segue a cronologia da vida do Buda, começando na sua primeira vida, passando pela sua conversão e iluminação e terminando no momento da sua morte. O intituito não é fazer reflexões sobre a importância de Buda na actualidade, mas sim dar uma biografia à pessoa que Buda foi no tempo que viveu. Pegando no cliché da coisa, o livro escreve sobre o homem e não a lenda.

 

E agora vocês perguntam-me: então gostaste mais da segunda vez? Sinceramente, não mudou nada desde a primeira leitura. Gostei mais da parte final do livro e mesmo com uma segunda tentativa, não me converti ao Budismo. Contudo, vai continuar a ser um dos meus livros preferidos, muito porque eu gosto de ler sobre religião e através do trabalho fantástico de Armstrong, conheci a fundo a história do Budismo e o seu espírito, bem como a forma como a bibliografia consultada foi tratada, o que torna todos os detalhes informativos mais fidedignos.

 

Queria colocar algumas passagens que me interessaram bastante na segunda leitura mas como elas são gigantescas, aqui fica a última que apontei, em que o Buda fala sobre a existência de Deus - uma visão com a qual concordo quase a cem por cento.

O Buda sempre negou a existência de qualquer princípio absoluto o Ser Supremo, pois isso podia ser outra fonte de apego, o que se tornaria uma obstáculo à iluminação. Tal como a doutrina do «eu», a noção de Deus pode também ser usada para tranquilizar e valorizar o ego. Os mais sagazes monoteístas nas religiões judaica, cristã e islâmica tomariam consciência deste perigo e falariam de Deus com uma reticência análoga à do Buda relativamente ao nirvana. Também insistiriam que Deus não era outro ser, que a noção de «existência» era tão limitada que seria mais correcto dizer-se que Deus não existia e que «ele» era Nada. No entanto, a um nível mais popular, é um facto que Deus é, frequentemente, reduzido a um ídolo criado à imagem e semelhança dos seus adoradores. Se imaginarmos Deus como uma versão em ponto grande de nós próprios, com aversão e gostos semelhantes aos nossos, a tentação seria grande de «lhe» atribir igualmente algumas das nossas esperanças, medos e preconceitos. Este Deus sedutor contribuiu para algumas das piores atrocidades religiosas da história. O Buda teria descrito a crença numa entidade divina complacente para connosco como algo «não construtivo»: só conseguiria fazer cair o crente na armadilha do egoísmo que devia transcendente. A vida da iluminação exige que rejeitemos semelhante falso apoio. (p. 116-117)

 

O clube de leitura volta quando a motivação e a paciência derem tréguas uma à outra e decidirem trabalhar em conjunto. E nunca se sabe quando isso irá acontecer

O que ando a fazer #1

amaralrita, 24.04.15

A vida é meio maluca e deixa-nos sempre ocupados mas não podemos andar sempre com desculpas: tirarmos algum tempo livre para nos cultivarmos é realmente importante. Eu nestas coisas viro-me mais para a leitura mas cabe um é que sabe de si.

IMG_20150417_140656.jpg

Os últimos dois livros que li foram o Clube de Cinema, do jornalista David Gilmour, e Buda, da cientista Karen Armstrong. Dois livros bastante diferentes, sendo que o segundo já tinha lido e tive exactamente a mesma impressão. Mas uma segunda leitura é sempre diferente de uma primeira e valeram todos os minutos.

 

Mas nem sempre me consigo concentrar nos livros. Há sempre aquela semana em que conseguimos ler todos os dias e ficamos entusiasmados mas depois esquecemo-nos do livro e já nem vale a pena recomeçar. Por isso é que sou doida por revistas, de todos os tipos, assuntos e formatos. Uma revista pode-se ler em uma ou duas horas mas fica para a eternidade. Se no mês seguinte me apetecer ler de novo aquela história que me marcou, tenho uma outra experiência de leitura bastante prazerosa e que não demora semanas a ler.

 

Ora se geralmente quando preciso de ler alguma coisa, compro sempre uma revista de moda, como a Elle Portugal, mas às vezes uma pessoa tem de se virar para coisas mais "sérias". E depois de meses a ler ou a Time ou a The Economist, decidi mudar de ares e comprei a Marketeer e a Executive's Digest, a última muito pela capa e pelo preço convidativo. É preciso incentivar a imprensa e os negócios portugueses e quem diria que até eram uma boa leitura?

Para finalizar, a minha melhor amiga/irmã gémea/a minha alma, de seu nome música, está sempre comigo todos os dias. Nas últimas semanas, temos dado importância a James Bay - porque ele é um senhor fantástico que pegou numa guitarra e criou um álbum com sons simples mas letras profundas. Nem todos conseguem dominar esta arte, mas este senhor fá-lo na perfeição. Di-vi-no!

 

Ficam aqui as sugestões, se tiverem algumas, sintam-se à vontade de as dizer, que eu ando sempre à procura de novas revistas e novos livros para me esquecer deles na secretária.

 

 

Páginas de histórias #1

amaralrita, 14.04.15

No livro O Clube de Cinema, de David Gilmour, o protagonista, um pai de 40 anos, está no metro e encontra uma antiga paixoneta. O acontecimento leva-o a fazer uma reflexão sobre a vida. No momento em que li esta passagem soube que a tinha de anotar em algum lado, porque mas verdade do que isto não há.

Leiam também:

Tinha o cabelo mais comprido, mas parecia não ter mudado, estava ainda muito parecida com a altura em que me disse aquelas terríveis palavras. Inclino-me a ensar que já não estou apaixonada por ti.» Que frase! Que escolha de palavras!

Durante seis meses, talvez um ano, já me esqueci, tinha sentido a sua falta com a intensidade de uma dor de dentes. Tínhamos partilhado tantas intimidades nocturmas, ela e eu, coisas só nossas que dissemos, coisas só nossas que dizemos, e agora, estávamos os dois sentados na mesma carruagem de metro sem nos falarmos; o que me teria parecido trágico quando era mais novo, mas que me parecia agora, não sei...a triste realidade da vida. Não é fantástico, nem triste, nem obsceno, nem hilariante, é apenas uma coisa normal; é o mistério de como as pessoas entram e saem das nossas vidas que acaba por não ser assim tão misterioso. (Afinal de contas, elas têm de ir para algum lado).

p. 122

Finalmente um bom livro

amaralrita, 25.03.15

Aos anos que eu andava para ler este livro!

É daqueles livros que uma pessoa encontra numa revista qualquer; é aquele livro que se memoriza «ah e tal é aquele livro com aquela história», é aquele livro que se passa por ele trinta vezes na Fnac e lembra-se que tem de o ler, é aquele livro que nos esquecemos de procurar quando à promoções de livros online. Ou então é aquele livro que vemos na prateleira de livros de uma amiga e dizemos «tens este livro? quero lê-lo há séculos, posso levar?». E depois de levarmos para casa, ele passa a ser o livro que nos esquecemos completamente que existe, até que nos lembramos que queremos ler alguma coisa e vamos procurá-lo. E é aquele livro que finalmente queremos ler e fazemos o esforço de desligar as tecnologias mais cedo só para apreciar aqueles dois capítulos ao final do dia.

IMG_20150324_223629.jpg

O Clube de Cinema: Um pai, um filho, três filmes por semana, de David Gilmour, 2011

 

Os primeiros três foram de uma acentada ontem à noite e vamos continuar para o resto da semana. E sim, vou ler o livro e ver os filmes de que falam - é o começo de uma experiência.