Já perceberam que este blog tem todo um tipo de particulares, a começar pelo título.
É suposto este espaço ser um blogue bastante sério e, por isso, quando estamos a escrever um texto sério como vá, uma tese de mestrado, devemos recorrer a algumas expressões clichés mas que são próprias da disciplina teórica que estudamos. Estes clichés são designados de conceitos teóricos basilares de qualquer reflexão ponderada de qualquer assunto do quotidiano.
Como vocês sabem, eu sou uma pessoa séria e, como tal, tenho uma excelente capacidade de falar rápido e atropelar as minhas próprias palavras. A minha mãe sempre chamou a este meu dom de inteligência trapalhice porque eu dou imenso pontapés no Português. Quer dizer, eu não dou pontapés, eu esmago, desmembro, espanco, esfaqueio, atropelo o Português, salto-lhe para cima à lá Karate Kid e ainda digo que sou licenciada em Jornalismo.
Mas o que as pessoas não compreendem é que o meu dom ajuda-me na minha "profissão", para discutir temas sérios e defender pontos de vista com argumentos sólidos e bens construídos. Porque quando se discute assuntos sérios de forma parva, temos de ter em atenção à invalidade do argumento: quanto mais estúpido soar, melhor.
Por isso, vou espalhar o meu dom pelo mundo e dar-vos uma lista de expressões importantíssimas a serem utilizadas no dia-a-dia, para mostrarem aos vossos amigos o quão magnífico é o vosso intelecto:
Agora a sério: é uma expressão de introdução ao tema, chama pelo interlocutor a levar-te a sério a partir daquele momento. É uma super arma esta expressão, pois indica ao outro que tu estás mesmo a falar a sério (como eu 90% das vezes não digo nada de jeito, quando quero que me oiçam, digo isto, mas tudo o que eu digo vale a pena, ok?)
Eu vou-te explicar: mais uma vez, puxa pela atenção do interlocutor, levando-o a crer que vais explicar o funcionamento de uma bomba atómica mas vais apenas dizer que só comes McMenus de Nuggets porque o pão dos hamburgueres não é bom. Não vais explicar nada em concreto mas dizes à mesma porque, lá está, é aquele momento raro em que te estás a dar ao trabalho de falar a sério, logo tens de o celebrar com uma boa introdução.
Tipo: eu sou pior que os anglo-saxónicos a dizer like. Quando confundi o horário de trabalho de uma amiga minha e ela reclama que me disse isso ontem, eu podia apenas ter dito "desculpa, não me lembrei". Mas não é muito mais bonito dizer "tipo dormi só seis horas e estou com dores de cabeça". É uma maneira elaborada de dizer uma expressão sem graça. E se forem como eu abusem dela à vontade, depois ganham o tique e parece que já não sabem falar.
Pseudo: esta é a palavra mais poderosa do mundo. Como a realidade não é real (quem entender a referência, ganha uma gelatina), tudo na vida é apenas uma pequena aproximação do real, logo tudo é um estado de pseudo. A minha irmã não é minha irmã, é pseudo-irmã. Eu não estou de dieta, eu estou em pseudo-dieta. Eu não gosto daquele gajo, eu pseudo-gosto daquele gajo. Vocês parecem super inteligentes a usar esta expressão porque assim todas as vossas asneiras, erros e pontapés na língua nunca serão graves porque o que vocês fizeram é só uma pseudo-asneira, um pseudo-erro, um pseudo-pontapé.
Assim, concluo com uma ideia inspiradora: vocês não são parvos, vocês não são tolos. Vocês são pessoas sérias com particularidades que o resto do mundo menos inteligente que vocês não entende. Mas eu percebo-vos, eu estou aqui para vos ajudar. Continuem a falar pior que o resto do mundo que eu não vos deixo sentirem-se sozinhos. Mais vale ser diferente do que normal. Tenho dito.