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Agora a Sério

Um local sério para se falar das coisas sérias de todos os dias. Só para pessoas que se levam muito a sério.

Agora a Sério

Um local sério para se falar das coisas sérias de todos os dias. Só para pessoas que se levam muito a sério.

Os pseudo namoros de Verão

amaralrita, 04.07.16

É oficialmente Verão logo está oficialmente aberta a época dos namoros de Verão.

É inevitável com o calor, com os vestidos, os calções, os dias na praia, os biquinis, os peitorais à mostra, digo mesmo que é impossível as hormonas não estarem aos saltos. E as hormonas jovens são as mais loucas, as mais rebeldes, as mais descontroladas - e por vezes a coisa descontrola-se mesmo a séria.

 

Então numa noite de Verão quente e amena uma moça e um moço são apresentados por amigos mútuos. Lá se acham piada um ao outro, lá falam durante a noite, lá trocam os números, lá falam dias e dias sem fim, lá criam uma ligação, lá ficam em sintonia, lá se encontram e vá curtem um com o outro. Mas a coisa não fica por ali e eles continuam, uma, duas, três vezes. Os amigos já sabem, eles até tão meio juntos e há aquela sensaçãozinha de que talvez, só por acaso, se nada se alterar, se tudo correr bem, como ninguém se dá ao trabalho, parece que a coisa pode dar para coisa séria...

MAS CALMA GENTE! Ainda não é séria mas vocês até querem que seja. Apaixonaram-se e até acham que dá alguma coisa. E entram naquela fase do estou-interessado-em-ti-mas-tou-me-a-fazer-de-forte-só-porque-eu-não-sou-assim-tão-facil-mas-cada-vez-que-te-vejo-apetece-me-saltar-te-para-a-espinha...vocês sabem do que estou a falar né?

 

E é aqui que surge o Limbo, aquele momento de que vocês não são só amigos mas ainda não são nada a sério. E todos os teus comportamentos também ficam num limbo e a tua cabeça anda a mil:

Então andamos o dia todo às SMS mas será que estou a mandar mensagens a mais? Tás a falar com outras gajas ao mesmo tempo ou só comigo? Eu também posso falar com outros gajos ao mesmo tempo?

Oh meu deus...mandei uma SMS sem um smile...fui muito dura? Já não temos tema de conversa há 5 minutos...estou muito seca?

Andamos o dia todo às SMS mas posso-te ligar? E se te ligar pode ser à noite antes de dormir? E posso ligar todos os dias?

Tivemos juntos ontem e podemos estar amanhã? Quantas vezes temos de estar juntos? 3 vezes por semana? O fim-de-semana deve contar também?

Tenho um jantar de amigos, posso-te levar? Ou vais lá ter depois para um copo?

Passado 1 mes já é oficial não é? Ou quando é que passa a ser oficial? Tens mesmo de me pedir em namoro ou estas coisas já não se fazem?

Como é que combinamos as coisas? Podemos ir jantar ou só cafés? Podemo-nos ver em pleno dia em lugares públicos? Podemos ir ao centro comercial no feriado?

Eu conto às minhas amigas mas tu não podes contar aos teus amigos, ok?

E COMO É QUE EU TE CHAMO? ÉS MEU AMIGO COLORIDO OU MEU QUASE NAMORADO? (para esta questão, a resposta está no pseudo)

 

Entretanto, com tanta pergunta a bater a neura, o moço já bazou, nós já bazámos, outro já veio, outra já foi com ele, nós já discutimos, já voltámos, já acabamos de novo, já seguimos em frente e já estamos prontas para outra. E o processo volta todo ao início, até voltarmos a Setembro e o engate pós-férias dar-se nas universidades e nos locais de trabalho. Foi bom enquanto durou, deu para peder uns quilos de ansiedade até.

 

 

Os homens não são todos iguais

amaralrita, 28.03.16

Esta é a história que prova que os homens não são todos iguais - ah e também é a história do Francisco:

 

Isto aconteceu há uns anos atrás, estava na faculade, no refeitório, a ler uns textos no meu tablet. Ia para uma conferência às 18h e tinha chegado cedo para estudar antes. E li tudo o que tinha para ler e quando olhei para o relógio, eram 17h. Poças, ainda falta uma hora, o que é que eu vou fazer?

Uns dois minutos depois, vejo uns rapazes a levantarem-se de uma mesa próxima a prepararem-se para ir embora. Eu voltei a brincar com o tablet e alguém me chama:

- Desculpa, está aqui alguém?

- Não, é na boa.

- Posso-me sentar?

Um rapaz com uma tshirt vermelha a dizer "eu não tenho facebook" senta-se do outro lado da mesa mas perto de mim. O resto da mesa estava completamente vazio mas ele sentou-se ao pé de mim.

- Olá, eu sou o Francisco.

- Olá, Francisco.

- Então tudo bem? Que estás a ler?

- Estava a ler mas agora já acabei.

- És de que curso?

 

Em qualquer outra parte do planeta, qualquer outra mulher teria mandado o moço ir dar uma volta e não aturaria "aquele" chato. Mas apeteceu-me testá-lo, apeteceu-me ver até onde ia a conversa dele e fui na conversa e comecei a responder às suas perguntas.

E assim começou uma longa conversa de duas horas. O Francisco fazia muitas perguntas, eu respondia e perguntava logo de seguida o mesmo. Foi uma conversa de tudo e nada e uma conversa super natural:

- Não acredito que estou a falar contigo - ele disse-me

- Porque dizes isso?

- Porque eu hoje decidi que ia falar contigo mas não sabia se ias falar comigo.

- Mas decidiste vir falar comigo assim do nada?

- Não, eu já te tinha visto umas vezes aqui na faculdade.

- A sério?

- Sim, vi-te no outro dia e depois há dois dias atrás estavas com um casaco branco. Eu vi-te, achei-te muito gira, e olha hoje vi-te sozinha e decidi vir falar contigo. Ou era hoje ou não era.

- Uau.

- Deves-me achar ridículo.

- Não, por acaso acho muito bacano.

- A sério?

- Sim, quantos gajos é que vêem uma gaja que acham gira e vão lá falar com ela? Isso é ter coragem.

- Fogo, se soubesse que ias dizer isso, já te tinha ido falar há bué.

- Mas só soubeste isso quando me vieste falar não é?

 

E lá tivémos uma conversa em que falámos de tudo, da vida dele, da minha vida, de música, dos AC/DC, de religião, bem de tudo e mais alguma coisa. Acabámos a nossa discussão a falar de aborto e eu já atrasada para a conferência.

 

Isto aconteceu uma vez na vida, por isso agora não vão para aí dizer que eu dou conversa a toda a gente, não é? É apenas uma história engraçada que por acaso aconteceu e que vou contar aos netos e da qual me vou sempre rir. Porque é que falei com ele? Não sei, apeteceu-me, queria falar com pessoas, queria entreter-me, estava inspirada, estava bem disposta, apeteceu-me. E foi uma óptima grande conversa, foi uma boa hora passada. E foi daqueles momentos que ficam para a história. Porque é daquelas histórias que contado ninguém acredita.

 

E ficou-me também uma lição para a vida: os homens às vezes não falam com mulheres porque têm medo da rejeição. Os homens também têm medo de levar tampas! Mas para homens e mulheres, aqui fica o conselho: se nunca tentarem falar com o gajo giro ou com a gaja boazona, nunca vão saber se poderiam ter passado duas belas horas a falar com um desconhecido simpático. E para as desconfiadas que acham que os homens só querem cama, acreditem que os homens não são todos iguais: a dificuldade está em apanhá-los num momento de inspiração e que se dêem a conhecer. E isso acontece num dia, por acaso. Por isso, "esperem" por esse dia, meus caros, um dia isso vai acontecer. E no entretanto riam-se dos falhados que metem conversa com vocês, porque esses dão ainda mais histórias.

Os homens de fato e gravata

amaralrita, 15.06.15

Há algum tempo que vos quero falar dessa espécie animalesca que abunda na sociedade portuguesa que é o homem de fato e gravata.

Eles são uma espécie curiosa, longe de estar em vias de extinção. São mais que as mães e estão em cada canto, a cada esquina, a espalhar o seu "charme" e a dizer ao mundo que nunca se esqueçam deles. Bah, odeio-os de morte.

 

Os homens de fato e gravata têm a vida mais simples de mundo. Fazem um curso qualquer e uma semana antes de irem para a Semana Académica já sabem que vão trabalhar para as Delloites desta vida. O jovem ainda nem fez exames e não sabe se a média de curso é de 12 ou 15 mas o mundo já anda desesperado para que ele vista o fatinho e comece a trabalhar.

Mal sabe do trabalho, o pobre coitado diz ao pai que precisa de um fato mas é a mãezinha que trata de tudo. Tem de ser feito à medida, um preto, outro azul escuro e mais tarde tem de se comprar um para o verão. O paizinho só se mete quando é para discutir as gravatas: pela mãezinha, levava uma de cada cor, com bolinhas e risquinhas, para que ele pudesse ter uma gravata sobressalente caso se suje à hora de almoço. Ainda estão mais uma hora a ver sapatos mas o filhote só quer comprar a t-shirt branca para poder levar para o Sudoeste.

 

E lá chega o primeiro dia de trabalho de uma existência bastante pacífica que vai durar anos e anos.

Ser um homem de fato e gravata é a coisa mais fácil do mundo. Tudo começa logo de manhã: a roupa já está preparada todos os dias, só tem de alternar o casaco de inverno e o cachecol com o parka e o guarda-chuva. Com sorte ainda consegue usar a mesma camisa branca três dias seguidos, porque quem é que vai notar mesmo? E nem me venham com a história da barba, que dá trabalho e tal, porque não dá, porque agora já é socialmente aceite um homem ter barba, logo qual é a dificuldade em aparar uns pelinhos na cara? Dificuldade é meter creme + primer + base + corrector + bronzer + blush + máscara + eyeliner + sombra + pó + whatever.

 

Já a viagem para o trabalho não envolve grande esquema: quem vai de carro para o trabalho, às vezes leva a pastinha só dar um look diferente mas os que andam por aí têm um look mais laid-back: carteira no bolso e mais nada. Os únicos acessórios permitidos são fones para ligar ao smartphone e um livro de fantasia que não seja muito maior que a mão - quando mais estranha for a capa, melhor.

 

Depois ele fecha-se no escritório à frente do computador a fingir que trabalha mas o seu verdadeiro trabalho só é feito na rua, em contacto com as pessoas, a mostrar que não faz nada de especial na vida mas que é super importante. Se no horário da manhã dá o seu ar de graça a fumar o cigarrinho de dez em dez minutos, na hora de almoço sai com os amigos todos em manada e juntos mostram toda a sua pujança. Enquanto as pessoas andam com a marmita atrás e comem da tupperware nos bancos dos jardins, eles aparecem no Atrium Saldanha, de mãos a abanar, à espera para comer um super pratão com tudo a que têm direito e ainda terem tempo para dois dedos de conversa com cafézinho a acompanhar. O mundo está em crise mas eles dispensam as filas para o microondas e mantêm-se fiéis aos menus acima dos 10 euros. Cuidados alimentares não é com eles porque a barriga de cerveja só aparece com os cabelos grisalhos, o Mercedes na garagem e os 5 mil euros na conta bancária todos os meses.

Depois do trabalho não são de papar ginásios, preferem as after-hours nos hotéis da Avenida da Liberdade, sempre com mais dois amigos e uma mulher, só para mostrarem que são afáveis e têm amigas. Fazer o jantar, ver televisão, lavar a loiça são tudo noções que não existem para eles, porque a vida está toda feita, não é assim?

 

Isto pode parecer todo um post cheio de preconceitos e estereótipos mas eu não tenho nada contra eles. Eles que encham as ruas de todo este Portugal que eu tou-nem-aí. Para aqueles que acham que eu tenho inveja, deixo-vos a minha verdadeira opinião sobre esta espécie: podem ser os maiores do mundo mas eu não gostaria nada de viver em Lisboa com 30 graus e não poder andar de sandálias e calções. Aquele fato escuro, aquela camisa branca com um tecido grosso, aquela gravata que aperta o pescoço, aqueles sapatos pretos fechados com as meias até ao meio da perna...ai a inveja que eu tenho de não ser um homem de fato e gravata.