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Agora a Sério

Um local sério para se falar das coisas sérias de todos os dias. Só para pessoas que se levam muito a sério.

Agora a Sério

Um local sério para se falar das coisas sérias de todos os dias. Só para pessoas que se levam muito a sério.

7 Regras para se ser um turista a sério

amaralrita, 06.05.15

Eu sou uma pessoa de factos e teorias científicas altamente comprovadas pela minha própria pessoa e testadas somente na minha experiência. E com a minha mais recente visita ao Porto, consegui finalmente teorizar como se deve ser um bom turista.

 

A primeira coisa que devem saber é que o meu método é universal: pode ser usado em qualquer cidade do mundo e dá para qualquer pessoa. Se acham que é um plano demasiado rigoroso, temos pena, vocês não são turistas profissionais e são uma vergonha para esta mui nobre profissão. Deixem-se de fitas e façam o plano e vão ver como se vão sentir mais confiantes e determinados em explorar este e outro mundo.

 

Regra número 1: preparar o estaminé, que inclui mochila, carteira, máquina fotográfica, garrafa de água, guarda-chuva. Se quiserem ainda uns snacks, tudo bem, mas mais vale ficar à mercê da comida da cidade e destruir a conta bancária na rua.

 

Regra número 2: fazer uma lista de sítios a visitar, mas com a atitude de que pelo meio já não se vai visitar nada. Toda a cidade consume o turista e no segundo dia já nos perdemos. Mas não tem mal, é tudo parte da experiência.

 

Regra número 3: tirar fotos é como os chineses: carregar no botão e disparar para todos os lados, cima, baixo, céu, tecto, chão, cave, pomba, pato, lagartixa...toda a foto é uma boa foto!

 

Dou a dica de não esquecer de tirar fotos com o telemóvel para se poder postar logo no Instagram - mas não é para postar LOGO! Há sempre uma foto melhor do que a a seguir e, por isso, na pausa do almoço, deve-se escolher a fotografia a postar. E nada de saturar o feed, já meio mundo sabe que estamos naquela cidade e nem toda a gente tem de saber todo o quilómetro quadrado que pisamos. Deve-se postar para os outros ficarem com inveja mas curiosos para saber mais - é o equilíbrio perfeito.

 

Regra número 4: Se é para ser turista a sério é para ter a mente aberta: está ali uma igreja? E ao lado outra igreja? e um museu? e um jardim? e uma loja de flores? e uma outra igreja? e uma outra praça? e um restaurante com coisas típicas? E isto e aquilo? Meus caros, é para fazer tudo!

É para ir ao museu e ver as peças todas em todos os pisos; é para ver a igreja e ver as figurinhas todas; é para ir ao jardim e ler as placas com todas as espécies de flores lá metidas. Se for para visitar Portugal, podem deixar algumas coisas para outros fins-de-semana, que uma segunda visita pode ser planeada com mais cuidado e ser melhor do que a primeira vez. Agora se vão para as Malásias e as Tailândias desta vida, por favor, fiquem acordados das 6 da manhã até às 2 da madrugada, para aproveitar dia, noite, sol, chuva, estrelas, candeeiros de rua. As cidades demoram anos a serem construídas mas nós só temos 5 dias para ver tudo. 

 

Regra número 5: mapas são coisas do passado. Há smartphones, há GPS, há Google Maps. Se o telemóvel decidiu ser estúpido sigam o método dos animais. Sigam a manada, principalmente a que tem europeus ricos, que andam com os livros, ou os simples chineses, que estão todos em linha. Eles sabem para onde vão e nós vamos com eles.

 

Regra número 6: saber onde é o MacDonalds é importante mas só em caso de SOS. Os primeiros 3 kilos que vamos engordar devem ser de origem gastronómica tradicional da cidade e o restante deve ser cafeína, talvez do Starbucks. Se as ofertas gastronómicas não forem nada atractivas, podemos engordar até 4 quilos e só podemos consumir um kilo de Nuggets. Nuggets é refeição, não é para petiscar, por isso não abusem.

 

Regra número 7: transportes públicos com muita moderação e táxis só para se sair à noite. De resto faz-se tudo a pé. Dá para conhecer as lojinhas, a comida de rua, os pombinhos, tudo. E deixem-se de mariquices. Tou-me a cagar se Londres é dez vezes maior que Amesterdão: andar faz bem e ter bolhas nos pés é sinal de riqueza no futuro, como manda a sina. Liguem as pilhas e ponham-se a andar.

 

Este é o guia de principiante. Devem seguir todas estas regras de forma religiosa nas vossas primeiras dez viagens. Depois, podem adaptar os vossos próprios planos mas vão perceber que o meu plano é infalível e nunca mais na vida se vão perder. Palavra de turista profissional!

A Tua Cara Não Me É Estranha

amaralrita, 30.04.15

Há uma doença que está a afectar as pessoas que me rodeiam e eu já estou a começar a ficar preocupada com a situação. Mas vamos começar pelos factos.

 

Quando pensaram na minha criação, um ser superior decidiu dar-me bastante inteligência para lidar com as parvoíces deste mundo mas até que foi simpático em dar-me uma cara também jeitosa. Redondinha, pequenina, com um sinalzão na bochecha...sou uma fofura, pronto!

O que essa entidade se esqueceu de me avisar é que, quando começar a conhecer muitas pessoas, vou sofrer do Síndrome do Reconhecimento Familiar - ou como eu gosto de chamar, o Síndrome Eu-Conheço-te-De-Algum-Lado.

 

Depois de uma adolescência pacata a não conhecer pessoas parecidas comigo, até achava que ia passar o resto da minha vida com uma cara simples mas única, dentro do possível. Mas não. Agora conheço pessoas pela primeira vez e depois do Olá vem a tirada: "a tua cara não me estranha" ou "eu conheço-te de algum lado".

 

À primeira vez tem piada mas à segunda começo a suspeitar.

 

Mas eu ando a aparecer na televisão e ninguém me diz nada? É que é preciso pagar direitos de imagem.

 

Será que tenho uma irmã gémea a passear por aí? Mais valia ter aparecido há uns dez anos atrás, para fazermos aquelas trocas de identidade na escola.

 

Será que alguém se está a fazer passar por mim para me incriminar de algo? Espero bem que seja a Emma Stone, para podermos trocar de vidas.

 

Será que sou a reencarnação de alguma estrela de cinema? Já que estamos a congeminar, pode ser a Audrey Hepburn?

 

Será que ando nos sonhos de toda a gente, tipo Casperzinho? A minha carinha até ficava bem de fantasminha cor-de-rosa.

 

Mas o que é que eu posso fazer relação a isto?

Mudo de cara e espero que não faça lembrar ninguém? 

Enfio-me num buraco e espero que esta doença passe e o mundo me esqueça?

Ou começo a inventar histórias do género: "sim, conhecemo-nos nos Globos de Ouro o ano passado, eu estava com aquele vestido da Fátima Lopes, não se lembra?"

 

Este caso não está encerrado e eu não vou desistir até encontrar uma explicação. E conselho de amiga, fiquem alertas porque pode afectar-vos!!

Eu e o Paypal somos namorados

amaralrita, 13.04.15

É oficial, tenho um namorado novo e estamos numa relação séria que pode levar a um casamento. Ele chama-se Paypal e eu já não sei viver sem ele.

 

Esta relação começou anos atrás, quando eu estava numa outra relação com um senhor chamado Spotify. Eu já tinha ouvido falar nele há séculos e sabia que mal nos conhececemos íamos ser BFFs. E foi assim que aconteceu.

Amor à primeira vista que foi crescendo com todas as horas que passávamos juntos. Ele sabia todos os meus gostos, dava-me sugestões do que ouvir e estava ali sempre disponível para mim. Até ao dia em que começou a ser demasiado controlador. Queria estar no meu PC, no meu tablet, no meu telemóvel. Queria que eu ouvisse Avicci e Kizomba. Queria que eu não tomasse cafés com o Youtube e tinha ciúmes horríveis do MP3, meu amigo de longa data.  

Com a chegada do Verão, começámo-nos a afastar porque eu passava mais tempo na praia do que a estar com ele e se nos encontrássemos por cinco minutos, ele já estava a pedir para eu ficar com ele cinco horas. Ele era demasiado necessitado, não dava.

 

Fiquei triste com a nossa separação mas afoguei as mágoas com o meu novo amigo, o Pinterest. Ele é um excelente fotógrafo e artista gráfico. Adoro as suas fotografias de streetstyle, de puppies, de pratos de salada e também das suas colagens de letras de música e cenas de séries de televisão. Ele era calmo, criativo e cheio de ideias mas nunca avançámos para algo mais porque ele percebeu a minha necessidade de independência. Apenas me disse que devíamo-nos encontrar ao fim-de-semana, em que ele me mandava um email com as melhores fotografias da semana e depois partilhávamos ideias. E ainda bem que assim o foi, porque continuamos amigos até hoje e sei que ele vai ser um amigo para a vida.

 

Mas eu andava à procura de algo mais, alguém com quem eu pudesse confiar a 100 por cento, todos os dias - e isso aconteceu quando finalmente me tornei amiga do Ebay. Nós frequentávamos os mesmos cafés e eu sabia da sua existência mas nunca nos tínhamos conhecido, porque ele é considerado um maluco da cabeça, sempre com negócios e mais negócios. Mas eu estava a precisar de uma loucura, de uma aventura, antes de ter alguma coisa séria. Um dia cheguei-me ao pé dele, disse-lhe que tínhamos interesses em comum, que já tinha ouvido falar bem dele e que devíamos ser amigos. Ele, super simpático, com toda aquela vibe reaggae peace and love, disse: «eu adoro conhecer pessoas, quantas mais, melhor!».

Fomos falando nos meses seguintes mas quando marcámos um café ele avisou-me «vais conhecer o meu melhor amigo, o Paypal.». Ui, fiquei logo com o pé atrás. O Ebay já é todo freestyle e agora tenho de conhecer o irmão gémeo dele, que é ainda mais social do que ele? Ui, nem pensar, não me vou meter nisto!

 

Quando o conheci já sabia o que me esperava, pois toda a gente já me tinha contado: ele é um personal shopper de profissão e portanto está sempre disponível para ajudar os outros. É charmoso, simples, divertido, confiante e super fiel, nunca desilude ninguém. É um daqueles amigos para toda a vida, sempre pronto para ajudar e dar conselhos.

No início dava-me alguns conselhos: «compra esta revista ou aquela t-shirt ou aquele CD, que está tão barato no Ebay, eu digo-lhe para ele te fazer um desconto.» Houve até uma ocasião em que lhe pedi para me arranjar um CD e ele prometeu que mo dava no dia seguinte mas afinal estava esgotado. Ficou com tantos remorsos que pediu-me imensas desculpas e que ia arranjar o CD, noutra altura.

Eu estava a gostar bastante de passar tempo com ele mas ainda não estava totalmente conquistada, ainda não confiava nele. Até ao dia em que ele esforçou-se mesmo por mim e aí eu soube que já não havia volta a dar.

 

Há uma semana virou-se para mim e disse «olha, eu não faço isto com toda a gente mas tu és especial. Anda comigo à Parfois que eu tenho lá 30 por cento de desconto na loja. Escolhe o que quiseres que depois é só ires buscar. É um presente meu para ti. Isto é a sério, não estou a brincar, confia em mim». Eu fiquei parva a olhar para ele mas com o coração a bater rapidamente. Será que ele estava a falar a sério? Porque haveria de ele fazer aquilo por mim? 

Estava tão entusiasmada que tratei logo de ver se era verdade. Comprei uns sapatos a 26 euros mas ficaram a custar 19. Nem queria acreditar, ele tinha razão! E eu só poderia ter esse desconto com o contacto dele! Apaixonei-me nesse momento! Quis contar ao mundo que éramos finalmente um casal mas tinha de esperar pelos sapatos - até ontem!

Já posso dizer a felicidade que estou a sentir. Ele gosta de mim e eu confio nele! Estou tão feliz porque ele faz-me feliz. Ele está lá sempre que eu preciso de alguma coisa, cuida de mim, mima-me com todas as porcarias que eu quero e ainda assume as culpas se alguma coisa correr mal. É um querido, um fofo, é o namorado perfeito. E é só meu!

PS - para os curiosos, o presente que cela o nosso namoro é este. Ainda por cima tem bom gosto o homem!

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