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Agora a Sério

Um local sério para se falar das coisas sérias de todos os dias. Só para pessoas que se levam muito a sério.

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O tempo nas Caraíbas

amaralrita, 06.07.16

Fala-se do verão e de praia e a primeira coisa que se pensa é: aiii como eu gostaria de estar nas Caraíbas.

Sim, as Caraíbas, aquelas ilhas em que não há verão nem inverno, todo o ano é dia de sol e calor, há praia calma e com água quente (nunca ninguém demora mais de 10 segundos a entrar no mar), os resorts de cinco estrelas, as cenas baratas, a falta de stress...ai ai como seria bom voltar às Caraíba (sacana da pirralha, ela não quer ir às Caraíbas, ela quer VOLTAR, mesmo a gozar com a nossa cara!).

 

E uma pessoa sonha e sonha com o paraíso até comparar os preços para viajar para lá e a conta bancária. É impossível, nunca será possível, porque estás tão longe, paraíso dos sumos de fruta e bronzes lindos?

 

Anda aqui uma pessoa a sonhar com as Caraíbas - até que sai de casa e vê que estão 30 graus às 9 da manhã; que o sol está altíssimo o dia todo; sua-se mais do que se respira; o céu está cinzento com nuvens altas e já dizem que vai chover o dia todo.

E eu penso: para quê gastar 1000 euros para atravessar o Atlântico quando posso descer 6 andares e entrar numas Caraíbas citadinas, em que há gelados Olá em cada esquina e há relvados interessantíssimos na Alameda mesmo óptimos para ver o Europeu?

 

Comecem a pensar sobre isso: vender Lisboa como a cidade hip-mas-tradicional, sítio de hamburguerias gourmets, rooftops chiques, festivais de streetfood que é só fastfood numa camioneta gira - e ainda as novas Caraíbas citadinas da Europa. Vou patentear esta ideia e depois quero as minhas comisões quando isto arrebentar. Obrigada.

 

O cartão e o carro

amaralrita, 05.10.15

Sai mais uma fábula do livro de contos: a Rita estragou um cartão de débito.

 

O meu cartão de débito é invejado por todo o mundo porque é dourado. Mas também é matreiro. Há semanas em que anda sempre fora de casa e quando eu digo para ele ficar quietinho na carteira, ele tenta sempre esquivar-se para ir parar a um multibanco. É uma criança cheia de sonhos a achar que pode explorar este e meio mundo e que quando chegar a zeros não há problema nenhum.

Mas tenho de pedir desculpa porque não se deve falar assim dos mortos: é que eu matei o meu cartão de débito.

 

Ora uma pessoa quando conduz e vai à praia tem de sacar o cartãozinho para pagar a portagem na ponte, não é, e em vez de estar a abrir a mala, tirar a toalha, a água, a comida, os chinelos e a carteira até achar o cartão, uma pessoa deixa-o à mão, na viseira do condutor. Está perfeito e nem é preciso fazer mais nada...desde que não se esqueça de antes de fechar o carro levar o cartão para casa, não é?

 

Pois.

 

Houve um dia em que ele de facto não foi para casa. E o carro ficou a descansar, num tórrido dia de Agosto com temperaturas a oscilar entre os 36 e os 38 graus. A Rita segue a sua vida e no dia seguinte pensa em sair de casa: "ai com este calor só saio às 20h". Muito bem, Rita, acho que faz muito bem. Quando chegamos ao carro, metemos a viseira para baixo e está lá o cartão.

"Olha que engraçado, está cá o cartão, ainda bem que não precisei dele antes".

O cartão estava lá mas não como dantes.

Tinha ganho uma ondulação característica, como se tivesse ido ao cabeleireiro fazer beach waves. Agora sim, estava dourado, ondulado e com o chip a não funcionar. Eu tinha um cartão californiano que não podia mais surfar.

 

Então não dás dinheiro? E agora?

 

Ainda fui teimosa e tentei que ele pagasse as compras em algumas lojas - e a verdade é que meio torto ele lá se despachou mas as caixas não o queriam de volta. Ou ia bem vestido ou nada feito.

No dia do funeral, nem o consegui levar ao banco. Pedi um substituto mas não o consegui enterrar. Ficou embalsamado, dentro da gaveta, como recordação. Aqui fica uma última homenagem.

 

E não se esqueçam da moral da história: paguem a portagem com dinheiro.

 

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Fenómenos de Verão

amaralrita, 15.07.15

Estamos a meio de Julho, parece que já não vem chuva nenhuma, o Algarve já está a bombar logo é mesmo Verão, não é?

Pronto, é agora que começa a minha depressão de quando-é-que-começam-as-minhas-férias. Mas enquanto isso não acontece, lá temos de viver o Verão em Lisboa, o que levanta algumas peripécias, que não têm piada nenhuma. Até a minha ironia (ou melhor, honestidade pura) deixa de estar tão engraçada com estas temperaturas, com esta moleza de que nada acontece:

 

- Sentar e levantar da cadeira com vestido ou saia é fantástico para se ficar com uma leve camada de suor nas pernas. Di-vi-nal;

- Sair de casa e passado uma hora querer trocar a roupa encharcada de suor também é uma sensação de outro mundo;

- Deixar o cabelo secar ao natural é bastante eficiente: ele fica tão tão tão seco que vira palha;

- Fazer a depilação nas pernas e três dias depois já está tudo na mesma. Ser mulher é difícil.

- Ficamos castanhos na pele e castanhos nos pés: usar sandálias é sinónimo de pés sujos, secos, suados, com bolhas e feridas e restos de verniz mal pintado. Blheca.

- Os homens importantes lá continuam a utilizar fato E gravata. Chama-se exercício passivo e lá se vão três quilos.

- Quer ir àquela esplanada gira? Está cheia. Quer ir àquele café mais escondido? Já fechou para férias. Quer ir finalmente sair à noite? Está tudo em Vilamoura. Mais vale ir com os primos bebés ao parque e levar o último livro do Nicholas Sparks.

- A única coisa que se pode safar é os jantares e os festivais de verão e as barraquinhas de comida na rua. Mas não sei se me faz bem ao ego ouvir: "olha vamos marcar café? Voltei hoje do Algarve, que é que se faz por cá?".

- Ir para a praia é só ao fim-de-semana e vamos todos motivados até que vemos a fila para a ponte. Vai ser uma sorte encontrar um lugar no meio de famílias que montam um estaminé que rivaliza as melhores rulotes dos parques de campismo.

- Por falar em Parques de Campismo, ter férias perto da capital é sinónimo de virar bicho do mato. É literalmente ir uma semana para o mato.

- Beber água é pior que respirar. Parece que temos de andar com um garrafão de cinco litros atrás.

 

Fica assim este post como aconchego para as alminhas que espalham o não bronze pela Baixa ao lado de ingleses com bronze de lagosta a gastarem notas de 50 em gelados do Santini enquanto comentam que voltaram do Allgarve. Vidas tristes.

 

Verão: Calor ou chuva?

amaralrita, 02.07.15

Sabem, há muito que queria desabafar com vocês sobre o calor infernal que se vive em Lisboa. Esqueçam o calor dos 32 graus que só aconteciam em dois dias e a cidade toda protegia-se indo para a praia. Isto agora começa nos 35 e as noites de verão lindas e perfeitas desapareceram, com o vento que se põe. Cá para mim mudei-me para o Egipto e ninguém me avisou.

 

É fantástico usar sandálias e vestidos e não andar com casacos atrás mas estamos a chegar ao cúmulo do exagero. Isto já não é calor, isto já é uma sauna. Já nem vale a pena mandar as pessoas para o Inferno - até o inferno parece mais fresco do que Lisboa neste momento. Como é que se sobrevive a isto? Vou viver para um frigorífico? Uso biquini na rua? Mudo-me para grutas? Emigro para o Pólo Norte? Mais uma gotinha de suor a dar festinhas nas minhas costas e eu saio deste planeta.

 

Esta minha raiva poderia acalmar com a descida da temperatura - uns fantástico 28 graus todos os dias com o céu azul e o Verão estava feito - mas nãããão. Isto um dia estão 35 graus, no outro acorda-se com o céu cinzento e no dia seguinte há previsões de chuvas. Mas vai chover porquê? Se eu quisesse chuva e calor ia viver para as Caraíbas. Mas ninguém percebe o mal que isto faz ao meu cabelo? Um dia está lindo ao sabor do vento e no outro está liso e oleoso. E à minha pele? Então um dia anda a espalhar brilho e bronze pela Avenida da República e no dia seguinte chora debaixo de calças e mangas?

 

Nem sei o que pedir para parar isto: se um grupo de assistentes que me abanem aqueles leques monstruosos à lá Cleópatra ou se compro umas Hunter agora para os Saldos. Enquanto isso, quero o livro de reclamações, se faz favor.