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Agora a Sério

Um local sério para se falar das coisas sérias de todos os dias. Só para pessoas que se levam muito a sério.

Agora a Sério

Um local sério para se falar das coisas sérias de todos os dias. Só para pessoas que se levam muito a sério.

Fenómenos de Verão

amaralrita, 15.07.15

Estamos a meio de Julho, parece que já não vem chuva nenhuma, o Algarve já está a bombar logo é mesmo Verão, não é?

Pronto, é agora que começa a minha depressão de quando-é-que-começam-as-minhas-férias. Mas enquanto isso não acontece, lá temos de viver o Verão em Lisboa, o que levanta algumas peripécias, que não têm piada nenhuma. Até a minha ironia (ou melhor, honestidade pura) deixa de estar tão engraçada com estas temperaturas, com esta moleza de que nada acontece:

 

- Sentar e levantar da cadeira com vestido ou saia é fantástico para se ficar com uma leve camada de suor nas pernas. Di-vi-nal;

- Sair de casa e passado uma hora querer trocar a roupa encharcada de suor também é uma sensação de outro mundo;

- Deixar o cabelo secar ao natural é bastante eficiente: ele fica tão tão tão seco que vira palha;

- Fazer a depilação nas pernas e três dias depois já está tudo na mesma. Ser mulher é difícil.

- Ficamos castanhos na pele e castanhos nos pés: usar sandálias é sinónimo de pés sujos, secos, suados, com bolhas e feridas e restos de verniz mal pintado. Blheca.

- Os homens importantes lá continuam a utilizar fato E gravata. Chama-se exercício passivo e lá se vão três quilos.

- Quer ir àquela esplanada gira? Está cheia. Quer ir àquele café mais escondido? Já fechou para férias. Quer ir finalmente sair à noite? Está tudo em Vilamoura. Mais vale ir com os primos bebés ao parque e levar o último livro do Nicholas Sparks.

- A única coisa que se pode safar é os jantares e os festivais de verão e as barraquinhas de comida na rua. Mas não sei se me faz bem ao ego ouvir: "olha vamos marcar café? Voltei hoje do Algarve, que é que se faz por cá?".

- Ir para a praia é só ao fim-de-semana e vamos todos motivados até que vemos a fila para a ponte. Vai ser uma sorte encontrar um lugar no meio de famílias que montam um estaminé que rivaliza as melhores rulotes dos parques de campismo.

- Por falar em Parques de Campismo, ter férias perto da capital é sinónimo de virar bicho do mato. É literalmente ir uma semana para o mato.

- Beber água é pior que respirar. Parece que temos de andar com um garrafão de cinco litros atrás.

 

Fica assim este post como aconchego para as alminhas que espalham o não bronze pela Baixa ao lado de ingleses com bronze de lagosta a gastarem notas de 50 em gelados do Santini enquanto comentam que voltaram do Allgarve. Vidas tristes.

 

Não vamos ao Nós Alive

amaralrita, 09.07.15

Chegou o dia, aquele dia.

O dia em que tudo mudou

O dia em que o pesadelo se tornou verdade.

O dia que eu achava que nunca iria chegar.

O dia em que o mundo vai de certeza acabar.

O dia em que eu já não me conheço a mim mesma.

 

Hoje é o dia em quatro anos que eu não vou ao Optimus Alive (epá Nós Alive é um título horrível e eu sou old school!).

Este ano não vou a esse grande festival. Nem os três dias, nem um dia, nem uma tarde, nem um concerto, nem para beber uma Heineken, nada, n-a-d-a, não vou, ponto final. Simplesmente, este ano...não dá.

 

Eu não sei bem explicar-vos como se sente o meu coração. Não sei está partido, pesado, sufocado, despedaçado, triste, baleado, queimado, esfaqueado, molestado, apedrejado, às fatias de sashimi, sei lá. Sei que ele não está bem mas que vai ter de sobreviver a este inferno de dias que aí vêm.

 

Será que ele vai conseguir evitar as redes sociais?

Será que ele vai controlar as saudades quando olhar para fotografias?

Será que ele vai sentir falta do toque da pulseira que devia estar no pulso esquerdo, que todos os verões deixa marca?

Será que ele vai conseguir resistir a não ler reviews dos concertos?

Será que ele vai para fora de Lisboa e vai tentar não pensar "eu devia estar noutro sítio"?

Será que ele vai aguentar pela segunda vez na vida perder um concerto de The Prodigy, depois de prometer ao mundo inteiro que mal eles voltassem ele ia estar lá na primeira fila, depois de a irmã lhe dizer que mal soube que eles vinham cá de novo ela sabia que não ias querer perder aquilo por nada deste mundo?

 

Bah, esqueçam, o meu coração já morreu, vamos esperar 3 dias para que ele ressuscite.

Duas coisas sobre a Grécia

amaralrita, 04.07.15

1. Eu já não sei a quantas eu ando ou a quantas eles andam.

Mas há acordo ou não?

default ou não?

Mas pagam ou não pagam?

Estão em incumprimento ou não?

Mas há dinheiro nos bancos ou não?

Vai haver mais dinheiro?

Dá para ir lá passar férias?

Vão deixar de fazer iogurtes gregos?

E que tal venderem a taça do Euro 2004? Podem ganhar uns trocos e nós fazemos um preço de amigo, já que o Pedrocas é BFF da Angie.

 

2. O Varoufakis já disse que se os gregos votarem sim ao acordo com o FMI que o governo pode-se demitir.

Mas qual é o problema desta gente que tem alergia ao poder? Está lá há um par de semanas e já se quer vir embora? Mas ninguém quer ser o Frank Underwood da aldeia? Se ele quer tirar férias para Santorini que me ligue que eu substituo-o e converso com a Christine. Já não a vejo há mais de ano, temos imensa conversa para por em dia.

 

Por favor, se alguém tiver novidades que me diga, se não não consigo marcar as férias.

 

 

Verão: Calor ou chuva?

amaralrita, 02.07.15

Sabem, há muito que queria desabafar com vocês sobre o calor infernal que se vive em Lisboa. Esqueçam o calor dos 32 graus que só aconteciam em dois dias e a cidade toda protegia-se indo para a praia. Isto agora começa nos 35 e as noites de verão lindas e perfeitas desapareceram, com o vento que se põe. Cá para mim mudei-me para o Egipto e ninguém me avisou.

 

É fantástico usar sandálias e vestidos e não andar com casacos atrás mas estamos a chegar ao cúmulo do exagero. Isto já não é calor, isto já é uma sauna. Já nem vale a pena mandar as pessoas para o Inferno - até o inferno parece mais fresco do que Lisboa neste momento. Como é que se sobrevive a isto? Vou viver para um frigorífico? Uso biquini na rua? Mudo-me para grutas? Emigro para o Pólo Norte? Mais uma gotinha de suor a dar festinhas nas minhas costas e eu saio deste planeta.

 

Esta minha raiva poderia acalmar com a descida da temperatura - uns fantástico 28 graus todos os dias com o céu azul e o Verão estava feito - mas nãããão. Isto um dia estão 35 graus, no outro acorda-se com o céu cinzento e no dia seguinte há previsões de chuvas. Mas vai chover porquê? Se eu quisesse chuva e calor ia viver para as Caraíbas. Mas ninguém percebe o mal que isto faz ao meu cabelo? Um dia está lindo ao sabor do vento e no outro está liso e oleoso. E à minha pele? Então um dia anda a espalhar brilho e bronze pela Avenida da República e no dia seguinte chora debaixo de calças e mangas?

 

Nem sei o que pedir para parar isto: se um grupo de assistentes que me abanem aqueles leques monstruosos à lá Cleópatra ou se compro umas Hunter agora para os Saldos. Enquanto isso, quero o livro de reclamações, se faz favor.

Meus Queridos Ray-Ban

amaralrita, 08.06.15

Quando uma menina se torna mulher começa a perceber que quer estar sempre na moda, sempre com estilo - e começa então a desenvolver a panca das malas, dos sapatos, dos brincos, dos anéis e, finalmente, dos óculos de sol.

 

Depois de anos a aumentar os lucros da H&M a comprar óculos de sol a seis euros, um verão decidi que me ia tornar numa pessoa adulta, séria, com objectivos de vida ambiciosos: decidi que ia comprar uns Ray-Ban.

Mas isto não é comprar só mais um par de óculos de sol: isto era um investimento mais arriscado do que as acções na Wall Street. Eu ia gastar mais de dois dígitos em duas lentes escuras que iriam cobrir os meus olhos para sempre.

 

O problema disto tudo é que a Rita com 18 anos ainda não tinha a inteligência de hoje - ela era fantástica, certo, mas faltava-lhe a genialidade dos 22 para poder fazer uma compra com pés e cabeça.

Primeiro, embirrou que os escolhidos iam ser uns Ray-Ban Aviator, porque era para parecer cool (coitadinha, já passou);

Depois, quanto maior fossem, melhor (tem um metro e meio mas pensa que tem uma cara gigante, ai ai);

E ainda teve a brilhante ideia de que mais valia comprá-los pela Internet do que comprar numa loja - temos de, porém, fazer a ressalva que a pequenina foi a uma loja, experimentou, apontou o modelo e depois é que foi comprar. Ela não era brilhante mas era inteligente, vá.

 Óbvio que quando os recebeu eles estavam um pouco largos e as lentes escuras e as hastes douradas chamavam demasiado à atenção - afinal, só ia usar de vez em quando. Mas que raio, então andei eu a demorar a comprar uns Ray-Ban para os deixar em casa? Nem pensar!

 

E pronto, lá foi a criança explorar o mundo com uns Ray-Ban na cara. Podia estar nevoeiro, a chover a potes e de noite, mas aquilo não saia da cara. Se estava atrasada para sair de casa mas não levava os óculos, mais valia voltar para trás e perder o autocarro. Era um excelente namorado, lá isso era. Tão bom que ela estava desejosa de os estrear na praia. Já estão a ver bem a cena: mar, areia, sol, selfies com aquele óculão ao pôr-do-sol - oh o problema é que na altura ninguém usava Instagram mas há registos para a eternidade.

 

Mas foi também nesse cenário perfeito que o nosso namoro acabou. Estava eu deitada na toalha, com a cabeça de lado e quero-me levantar e dou um jeito ao pescoço tão grande que enfio a cara na toalha. Quando me levanto, olho em frente e a minha visão tem um risco. OH NÃO. A LENTE ESTÁ RACHADA.

Foi tão grande o salto que dei que fiquei com outro torcicolo. E quis chorar, em desespero. Nem brinquem com coisas sérias que eu fiquei mesmo deprimida. Nem tínhamos comemorado os nossos seis meses. Fiquei de coração partido, isolei-me do mundo e disse que nunca mais ia comprar uns óculos de sol. Eles eram o amor da minha vida, como poderia eu encontrar outra pessoa como eles? Nesse Inverno e nos anos seguintes fui ao cemitério dos óculos de sol (a taça em cima do aquário no escritório) e usei os velhos óculos de sol da H&M. Eu estava de luto e ninguém poderia preencher o vazio daquela partida.

 

Os anos foram passando e eu tive de arranjar outros amigos mas nunca tive a coragem de regressar aos Ray-Ban. Eu não podia comprar outros, outros que não aquele, por isso não valia a pena tentar. Com o tempo, aprendi a amar de novo e a deixar que outros óculos, outros modelos e outras cores me deixassem feliz. Hoje a minha panca por óculos de sol continua acessa mas já não me deixo ser monopolizada. Tenho vários pares para que o amor seja partilhado. Mas no outro dia a saudade bateu, quando uma amiga disse-me "lembras-te dos teus Ray-Ban? Como é que eram? Eu queria uns parecidos".

 

Oh, no que ela se foi lembrar.

Aaaah, o preto das lentes a contrastar com o dourado.

A maneira suave como deslizavam para a minha cara.

Aquele espaçinho por debaixo das lentes em que eu via o mundo metade bronzeado metade normal.

A marca que deixavam no nariz porque eu apertava-os tanto contra mim para não fugirem.

As vezes que eu os puxava para cima para nunca me abandonarem.

 

Hoje estive quase para remendar o meu coração e procurar por outros RayBan mas sinto que ainda não é desta. Sinto que sou feliz como sou e não quero estragar as memórias felizes que passámos juntos. Talvez daqui a um, dois anos, quem sabe, nós possamos encontrarmo-nos de novo e recomeçar a nossa história de amor. Não sei como será o futuro mas se quiserem façam figas comigo, talvez esta história tenha um final feliz.

 

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