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Agora a Sério

Um local sério para se falar das coisas sérias de todos os dias. Só para pessoas que se levam muito a sério.

Agora a Sério

Um local sério para se falar das coisas sérias de todos os dias. Só para pessoas que se levam muito a sério.

A saga das compras

amaralrita, 30.11.15

Ah a Black Friday, ah o Natal, ah vamos às compras todos os dias porque nos apetece e tudo está com desconto e tudo é lindo.

Ah como era bom se isto tudo fosse verdade, porque meter-me num centro comercial nestas semanas devia ser o maior prazer da vida mas é uma tortura.

Mete-se a pata no local e sorrimos: agora sim, vamos começar a divertirmo-nos. E começamos o processo de compras.

 

Fase 1: leva-se tudo

Entramos na primeira loja e parece o Mundo Encantado dos Brinquedos, perfeito para princesas. Passamos então ao ataque e entramos no pesadelo. OH MEU DEUS, quero levar tudo: quero aquilo, aquilo de que preciso, aquilo de que preciso em doze cores, aquilo que tenho sete peças iguais no armário, aquilo que nunca utilizei na vida, aquilo de que eu não gosto, aquilo de que eu nunca vou gostar, aquilo naquela cor horrível que eu detesto. Não interessa se só existe o XXXL ou o XXS, eu quero levar tudo, eu vou levar tudo.

 

Fase 2: olhar para a carteira

Com tanta maravilha para os olhos começamos a olhar para a carteira: beeem, tudo, tudo, não pode ser, mas há algumas coisas que podemos levar, certo? Olhamos para o relógio, temos de nos despachar, as pessoas vão começar a levar tudo portanto esta é a hora de atacar. Pensamos mentalmente nas peças de que precisamos e daquelas que gostávamos de experimentar. E lá vamos nós.

 

Fase 3: tudo vale

Agora é a altura de pôr tudo nas mãos: Camisola branca? check. Casaco de inverno? Check. Botas altas, botas curtas, check, tshirts que podem dar jeito no próximo verão check, check check check. E siga para os provadores, mas na fila lembramo-nos: só podemos levar 8 peças. E implementa-se a estratégia do o que-se-experimenta-e-o-que-se-leva-para-experimentar. E o resto? O resto vai para o provador lá de casa não tem limite logo algumas peças experimentam-se em casa e outras na loja. E se não gostar? 30 dias para devolver - e esta é a maravilha do capitalismo ocidental europeu, meus caros, aproveitem.

 

Fase 4: ficar horas no provador

E agora sim começa a diversão...se as coisas corressem bem...

Ui isto não me fica bem...mas é com estas calças e se for com as calças que trouxe?

E um vestido? Se calhar preciso de ir buscar um vestido...

Ah raios preciso de um básico a ver como é que fica isto...

Será que isto fica bem com aquele colete que eu não uso há dois anos? Nunca se sabe...

Eu tenho mais tshirts pretas ou brancas? Quantos pares de calças é que tenho? Estas estão com desconto mas tem de ser o tamanho acima...

Entramos e saímos dos provadores, trocamos peças que as meninas dos provadores estão a arrumar, pedimos para nos ir buscar o tamanho acima e abaixo só para comparar.

Meia hora depois, de vestir e despir as mesmas peças dez vezes, de combinar e descombnar, cheia de calor, com os cabelos em pé e farta de olhar para o espelho, temos umas 4 peças para levar.

 

Fase 5: a consciência acorda

Lá vamos nós, a sair do provador, com quatro peças na mão, com sorte uma delas é o que realmente fomos comprar e o resto é o que se apanhou.

Estamos quase, só falta a caixa. Mas o problema é que na caixa se demora muito tempo e ficamos muito tempo a olhar para as peças...

as peças que nós vamos comprar...

as peças que são nada do que nós queríamos...

as peças que não são maravilhosas...

E começam as dúvidas...

Será que levo isto?

Será que quero mesmo isto? Bah, isto não está assim tão barato quanto eu pensava.

 

De repente entramos na fase 6...o cérebro começa a funcionar, a consciência aparece, o racionalismo intervém e pensamos "para que vou gastar dinheiro nisto se já tenho isto tudo?"

E entramos na fase 7: olhamos para o lado, saímos da fila, deixamos tudo na primeira prateleira e vamos embora.

 

A tristeza de um dia de compras que não foi.

A tristeza de um sonho perfeito que ficou arruinado porque não há nada de jeito.

A tristeza de uma paixão que não se concretizou porque não se encontrou a cara metade perfeita.

A tristeza de uma manhã passada à procura de algo quando o que se realmente queria era que nos oferecessem uma mala Chanel para ficarmos com a vida feita.

 

Ai ai

 

Tanto se experimentou mas não se gostou de nada.

Mas não aceitamos a derrota! Vamos encontrar algo de jeito.

Saímos da loja, entramos na próxima mas nada parece o mesmo. As compras já não são cor-de-rosa, as botas já não brilham, os cachecóis parecem mantas de retalho, as malas parecem sacos de pano.

Mas continuamos à procura, à procura, à procura...até que paramos, abrimos os olhos e lembramo-nos:

"Posso sempre comprar um McFlurry!"

 

E lá vamos nós, antes de almoço, a correr para o McDonalds afogar as mágoas num gelado, porque um gelado cheio de calorias deixa-nos ricos e prontos para enfrentar um dia com roupas tão demodé que até uma pessoa mal vestida iria olhar-nos de esguelha.

 

Gostar de compras não é fácil, fica aqui escrito, a desforra está para vir.

 

Viver no bairro

amaralrita, 16.11.15

Viver num bairro é como viver numa aldeia: todos se conhecem, todos têm os mesmos hábitos, todos fazem aquilo que lhes apetece porque é tudo muito seguro.

 

No meu bairrito, acontece-me de tudo, faço maluqueiras e parvoíces e nada me acontece...acham que não? Então vejam só o que me aconteceu no outro dia.

 

Fui ter com uma amiga, estacionei o carro à porta da casa dela (300m ao lado da minha), fui jantar a casa dela e depois não me apetecia pegar no carro para pô-lo na outra ponta do bairro. Então lá ficou ele.

No domingo, de manhã, preciso de ir às compras. Vou buscar o carro mas uma carrinha branca está a travá-lo. Pronto, vou só buscar o carro depois das compras.

Vou ao supermercado, encho o carrinho, estou no talho a fazer as últimas compras quando me lembro: "porra, deixei a carteira no carro!".

O que fazer? Vou-me embora assim do nada?

Sorrateiramente (mais a correr com cara de parva no supermercado), deixo o carrinho com as compras num canto, volto ao carro, tiro o carro, estaciono no centro.

Ao passar as portas de entrada lembro-me: "eish, tenho de ir buscar pão".

Passo à frente do supermercado, vou à padaria na outra ponta do centro buscar pão, entro no supermercado e o carrinho está intacto! Vou ao talho, vou para a caixa, pago tudo e vou toda feliz para o carro.

E chego ao carro e tenho uma multa da Loures Parque de 4 euros porque não coloquei parquímetro (mas é que nem em Lisboa se paga ao domingo!). E cheguei 5 minutos depois de me passarem a multa.

 

É assim a vida rebelde que se tem no bairro: deixa-se o carro ao pé do prédio dos outros, deixa-se as compras no supermercado, deixa-se o carro sem parquímetro. Porque quando vives no bairro, a única coisa de grave que acontece é quando alguém espirra.

50 coisas que pensas quando vais de viagem

amaralrita, 09.11.15

As etapas de um longo processo para se ir de viagem, no sabádo de manhã e voltar domingo à noite.

(na véspera)

1. Boa vou de viagem taaao bom

2. Que seca tenho de fazer a mala

3. É melhor fazer de véspera

4. O que é que eu levo?

5. Vai chover ou vai estar frio? E se tiver chuva e frio?

6. Botas ou ténis?

7. Posso levar uns saltos altos de reserva?

8. E vestido? Se levar uns collants grossos não apanho frio

9. Quantas cuecas é que preciso para 1 noite?

10. Vou estrear a minha camisola nova

11. E as calças

12. E as botas

13. Botas altas ou curtas?

14. Bem, isto já está muita coisa, se calhar arrumo amanhã

 

(na manhã seguinte)

15. Eish tenho de fazer a mala

16. Onde é que está o meu champô?

17. E o creme da cara, e das mãos, e do corpo? E o sérum e a base e o creme de noite?

18. NÃO me posso esquecer do pijama

19. Pronto, agora vai tudo lá para dentro

20. A mala é demasiado pequena, preciso de outra maior

21. Yes esta cabe tudo....

22. ...se eu não levar 4 pares de botas

23. Se calhar levo só estas

24. E deixo isto

25. E isto

26. E isto (uma tshirt em Novembro dá jeito a alguém?)

27. Pronto, cabe quaaaase tudo

28. Nop, não cabe o casaco

29. Troca de mala

30. Mas aquela é demasiado grande

31. Então tira mais coisas

32. Proooonto a camisola nova fica cá

33. Yes, está tudo, conseguimos e ainda temos tempo para tomar o pequeno-almoço

 

(20 minutos depois)

34. Pronto, last round check

35. Abrir a mala e espreitar: tá, tá, tá, tá, tá tudo óptimo

36. Escolher cd's para a viagem

37. Hmmm este pode ir, este também e o outro também

38. Esta caixa está vazia, será que já está no carro ou está na aparelhagem do quarto?

39. Estamos atrasados

40. Pronto, não interessa lá vamos nós

41. Vestir casaco, por mochila às costas, mais uns sacos, buscar uns snacks, mega garrafa de água, fechar a casa e siga

 

(no carro)

42. " Trouxeste isto?"
43. "Sim" (yap, não falhei)

44. "E aquilo?"
45. "Também" (ainda bem que espreitei a mala antes de sair)

46. "a  bolsa vai na mala lá atrás?"
47. "Sim está tudo" (que profissionais!)

 

(na auto-estrada a 1 hora de viagem)

48. Trouxe os livros para estudar?

49. Trouxe escova de dentes?

 

E o último pensamento que acontece demasiadas vezes

50. Merda, aposto que me esqueci do pijama.

 

Uma tese sobre marmitas

amaralrita, 06.11.15

Ser saudável dá trabalho - e se não acreditam, então leiam isto.

É que não é só comer frutas e legumes, há toda uma preparação de alimentos, caixinhas, refeições e transporte para andar com a casa às costa...pelo menos para quem trabalha ao pé de uma pastelaria com croissants e bolos de chocolate e pães de Deus, que não pode estar sempre a ceder à tentação.

 

Assim, as dores de cabeça começam no domingo à noite, com a preparação da semana que aí vem.

 

Parte I - a comida certa

Então o que vamos almoçar? Primeiro, vamos treinar de manhã? Então carrega nas quantidades. Nas quantidades ou na proteína? Mais ou menos hidratos? Vou ter muita fome ou pouca? Qual é o pós-treino mesmo?

Ok, não se vai ao ginásio, logo pode-se comer pouco: mas só uma salada? Isso não enche. E se for um batido? Não enche nem a mala nem o estômago! Ah e se for um wrap? Seria bem bom, mas depois ficamos com desejos dos wraps do MacDonalds do Saldanha.

Em caso de desespero, sigam a dica do PT: frango, arroz, bróculos. Siga!

 

Parte II - a tupperware certa

Escolher tupperwares é a maior odisseira do mundo. 

Primeiro: redonda ou quadrada? Quanta comida pus lá? Mas vou comer muito ou pouco? Vou ter fome de leoa à hora de almoço ou vou virar passarinho esta semana? E se for uma redonda e uma quadrada...pois mas depois não cabem uma em cima da outra. Quer dizer, caber cabem, mas não naquela mala...

E se for um termo! Termo para quê? Para a sopa? E a salada, vai à parte ou tudo junto?

A fruta vai descascada? Se for, vai em caixa, se não vai em saquinho. Mas aquela tupperware não leva aquela quantidade de morangos. Ok então troca, mas se for maior depois não cabe ao lado da outra...

E o filme só agora é que começou porque falta a outra parte.

 

Parte III - a mala certa

Sim, a parte da mala - onde enfiar a tralha toda.

Mala de pano da Primark? É grande, cabe lá tudo, mas fica pesada.

Mala de ombro do Continente? É engraçada sim mas é do tamanho de um tanque.

Deve ser grande para levar tudo lá dentro. Mas depois vou andar com uma mochila-caravana atrás? Não, então tem de ser prática. Mala de alça? Não cabe a garrafa de água para o ginásio, a do dia, da noite, das férias. E se for só uma malita? Já disse, são 23 tupperwares e 14 sacos, não é uma barrinha de cereais fitness para o resto do dia.

Mochila às costas tipo Eatspack? Não, não vou com isso para o trabalho. E se for uma xpto do Ikea? Até dá para levar o computador...computador e comida? Risca isso da lista.

Então mala para o computador e mochila pequena para a marmita. Cabe tudo mas fica cheio.

 

No fim disto tudo só me apetece contratar um chef que me dê a comida à boca, pode ser?