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Agora a Sério

Um local sério para se falar das coisas sérias de todos os dias. Só para pessoas que se levam muito a sério.

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Saldos

amaralrita, 29.06.15

Hoje é dia 29 de Junho e já recebi uns três ou quatro emails a anunciar os Saldos de Verão e as lojas já estão todas equipadas para a selva que vem aí. Sim estamos em Junho ainda e já há saldos há mais de uma semana.

 

Há apenas três coisas que vou dizer sobre este assunto:

 

1. No meu tempo os Saldos só começavam dia 15 de Julho. Depois passaram a começar oficialmente dia 15 de Julho, porque como ficámos um bocadinho mais pobres, as pessoas precisavam de uns trapozinhos para irem para o Algarve no final de Junho - e foi assim que apareceram as promoções. O povo ficava doido mas a pura da loucura só começava mesmo com os Saldos oficiais, em que toda a loja se rendia a um espectáculo de feras de fazer inveja ao Cardinali.

Agora já não há datas oficiais de nada, os Saldos é quando as marcas quiserem escoar produto, para chegarmos a Agosto e já haver aquele cantinho a dizer "Nova Colecção", que é nem colecção Meia Estação nem é Colecção Outuno, é apenas um par de peças novas para incentivar o consumo.

 

2. O facto de os Saldos começarem bastante mais cedo só mostra que nós estamos pobrezinhos, desesperados por comprar tudo e não pagar nada por isso. O povo é chique, gosta de andar sempre bem arranjado e não podemos dizer aos amigos e à família que adiem os casamentos, baptizados e despedidas de solteiras só porque aquele vestido lindo de morrer ainda não custa menos de 100 euros. E além disso, o povo está cada vez mais exigente, desde quando é que já se viu uma camisa branca da Primark custar 13 euros? Devia ser seis euros e já é caro. Biquinis a 20 euros? Devia ser três euros a parte de cima e a debaixo um euro e vinte cinco cêntimos.

 

3. Os Saldos começaram mais cedo. Eu não estou preparada para isto. Nem eu nem a minha carteira. Queríamos manter-nos sóbrias por mais uns dias mas está difícil não cair na tentação.

 

Só uma última reflexão: porquê? porquê? porquê? porquê? porquê? porquê? porquê? porquê? porquê? porquê? porquê? porquê? porquê? porquê? porquê? porquê? porquê? porquê? porquê? porquê? porquê? porquê? porquê? porquê? porquê?

 

A preguiça no mundo

amaralrita, 26.06.15

Tenho preguiça. Estou com preguiça. Tou preguiçosa (como é que se escreve isto?). Tenho sono. Não tenho tempo. Não me apetece. Estou desorganizada. Tenho preguiça. Estou com preguiça. Sou a preguiça...sou uma preguiça?

 

Isto de bloggar estava a correr tão bem até que eu fiquei sem ideias, sem tempo para escrever ideias, sem cabeça para pensar em ideias, sem atenção para deixar os textinhos todos direitinhos e organizadinhos durante a semana, sem paciência para escrever mais do que duas linhas.

 

Mas como é que isto aconteceu?

 

Será que é do calor?

Será que é do Verão?

Será que me apetece mais viver do que escrever?

Será que é por ser sexta-feira?

Será que é porque devia era estar a trabalhar e não a escrever?

Será que é da TPM? (chegou mais cedo, então)

Será que é do escaldão das costas do fim-de-semana passado?

Será que é do peso na consciência do waffle de chocolate que comi no outro dia?

Será que é daquela borbulha na cara que me vai estragar o look para o fim-de-semana?

Será que é das bolhas dos pés de usar as sandálias novas todos os dias?

Será que é das peles dos dedos arrancadas a cada cinco minutos que sangram durante semanas?

Será que é do cabelo seco a cheirar a calor/mar/piscina/areia/qualquer coisa?

Será que é do alface das saladas que eu não ando a comer?

Será que é da dor nas pernas de fazer mil agachamentos por dia?

Será que é dos cinquenta gelados que já devorei desde que o Verão (em Maio) começou?

Será que é das Somersby e das imperiais que não me largam todas as semanas?

 

Pensando melhor na questão, acho que mais valia ter um blogue sobre como arranjar desculpas do que bloggar a sério. Fica a ideia talvez para a próxima semana-mês-ano-década-século-milénio-planeta-galáxia-sei-lá-eu-o-limite-do-universo.

 

As vezes que o mundo acabou

amaralrita, 19.06.15

Ontem antes de me deitar ainda fui ao Twitter e vi toda esta história da Grécia. Pensei, pronto é isto, o mundo acabou. É que é daqueles momentos em que ficamos a pensar que não há maior desgraça, logo não pode haver mais nada depois disto.

Mas depois pus-me a pensar e realmente o mundo já acabou tantas vezes, já aconteceram coisas que uma pessoa abre a boca, baixa a cabeça, põe a mão na testa e faz de tudo para que as lágrimas não caiam. Mas sobrevivemos, estamos aqui para continuar a vida e esperar que não aconteçam mais desgraças.

 

Assim sabes que o mundo acaba/acabou quando:

 

Euro 2004. Nem vou dizer mais nada antes que o país caia;

 

Vês pessoas a beber cerveja as nove da manhã;

 

Acabas de pintas as unhas, mexes a mão e já lascou;

 

Aquele ano em que o Benfica perdeu tudo (até para um não crente aquilo deu pena);

 

Todos os episódios de Game of Thrones - o título da série é mesmo esse o-fim-do-mundo-todas-as-semanas.

 

Os restaurantes escrevem "à caracóis";

 

Os molhos do MacDonalds passaram a ser pagos;

 

O metro faz greve de 24 horas: a primeira foi um choque mas agora até ficamos impressionados quando está a funcionar;

 

A Volkswagen deixou de fabricar o pão-de-forma. Como é que eu vou explicar aos meus filhos que não vão poder ter o carro mais cool do mundo?

 

Quando dá aquela trovoada às três da manhã e o som da chuva faz-te pensar que há um dilúvio lá fora. Nesses momentos, acho que era melhor estar no Titanic;

 

O momento em que a televisão portuguesa deixou o JCB saltar para uma piscina;

 

Quando a moda decidiu aceitar que leggins são calças;

 

Os dias em que o Meo Arena decide ter mega artistas em palco e toda a zona da Expo torna-se intransitável;

 

Alguém anda na Segunda Circular a 40. À tua frente, sem deixar ultrapassar;

 

Quando as miúdas de 12 anos andam mais vezes com um copo na mão do que a brincar com Barbies;

 

Todas as vezes que cinquenta casais famosos se separam (ainda não recupei da Heidi Klum & Seal);

 

O telemóvel novinho em folha cai no chão;

 

Ah e o mundo também acaba todas as manhãs quando vejo que vão estar mais de 30 graus em Lisboa. Quero viver num cubo de gelo, por favor.

 

Se as mulheres mandassem no futebol

amaralrita, 17.06.15

Eu sou mulher e não sou fã de futebol. Reviro os olhos de cada vez que os homens ameaçam que vão entrar numa discussão sobre o pé esquerdo do jogador do Benfica e a transferência do jogador do Porto para um clube qualquer da Europa. Estou a escrever isto e só me lembro do nome Jackson Martinez - não faço puto de ideia de quem seja mas tem ganda nome.

 

O que me faz não ser fã de futebol é o facto de ninguém perceber que eu sou uma excelente treinadora de bancada. Eu não vejo futebol mas percebo de várias coisas e todos os comentários que faço são bastante bons. Eu só não vejo muitos jogos porque passo-me da cabeça porque como é que é assim tão difícil 22 homens em campo não conseguirem meter uma bola dentro de uma rede em 90 minutos? Isso dá para arranjar o cabelo, enquanto se pinta as unhas, mete-se uma máscara de beleza no rosto e ainda dar uns golinhos no suminho verde. É só chutar, não percebo o drama.

 

Se as mulheres mandassem no futebol, isto era uma coisa muito mais fácil, os clubes passavam dos 100 pontos, o Ronaldo marcava 3 golos por jogo, o árbitro não fazia o que lhe apetecia, os adeptos só bebiam champagne e se aos 90 minutos e um segundo a nossa equipa estivesse a perder, parava-se o jogo para recomeçar noutro dia, porque eu não vou perder tempo para ver a minha equipa a perder, não é?

 

E se pensam que as mulheres não percebem nada de futebol, tenho-vos a dizer que qualquer mulher que eu conheço fã de futebol punha o Pinto da Costa a chorar no colinho da mamã. Porque nós sabemos imensas coisas (sim, homens, nós sabemos o que é um Fora de Jogo, não precisam de explicar isso pela milésima vez, num bar, com cinco Super Bocks à frente a explicar a táctica da coisa) e se mandássemos nisto tudo, as coisas funcionavam da seguinte forma:

 

Tudo é falta, tudo dava direito a amarelo, até uma festinha na cara;

 

O jogador preferido é aquele que é mais giro. Quando estão a cantar o hino ou nos primeiros cinco minutos, a gente fica com um debaixo de olho e já está, é o melhor jogador do mundo.

 

Ah sim e eles só conseguem ser bonitos dentro de campo, vermelhos e com trinta litros de suor a brilhar no corpo. Se fossemos ver ao perto, continuavam a parecer como o Beckham no Real Madrid com brincos nas orelhas (coitadinho, já passou, pronto).

 

Nós também não olhamos só para um. Nós temos tempo e disponibilidade para inspeccionar toda a equipa, no relvado e no Instagram, porque fã que é fã conhece a equipa a fundo, já que a Sara Carbonero é tão importante quanto o Casillas.

 

Nós torcemos pela equipa e somos tão tão tão fiéis que parte-nos o coração quando os jogadores perdem a cabeça e fazem um corte de cabelo horrível. Se eu fosse casada com ele, a ver se ele fazia destas coisas, é o que eu penso;

 

Nós damos instruções claras - passar a bola para quem está sozinho mas os homens seguem a manada e depois admiram-se que perdem a bola. Mas porque é que é que não mandam a bola para onde não está ninguém?

 

Ninguém se arma em Rei da Selva e enfrenta dez defesas sozinho. Parem de ser o Tarzan e querer passar por cinco macacos com a bolinha nos pés. Filho, nós adoramos-te, mas não és o Ronaldinho, pára com isso;

 

A bola só serve para chutar, e não para dar beijinhos e festinhas. 20 minutos de jogo e ainda não há golos? Os milhões de euros gastos em Ibiza têm de passar recibo no campo;

 

Se a equipa estiver a perder por três golos, paramos o jogo, ligamos ao Ronaldo, esperamos que ele chegue, damos dez minutos de compensação e esperamos que ele resolva a palhaçada. Se ele não puder, esperamos pelo Neymar, mas nada de Messis.

 

Se faltarem dez minutos para o final e estamos a perder, tudo passa a ser penalty: penalty a meio campo, penalty na lateral, penalty quando roçam as pernas, penalty quando um jogador parece que vai cair no chão. Só pedimos um penalty, não custa muito;

 

Se for auto-golo, depois de anularmos obviamente, temos duas hipóteses: se for um guarda-redes fofinho, ainda lhe puxamos a moral, se for o Casillas é olho da rua.

 

O árbitro é o Diabo: cego, surdo, mudo, estrábico, esquizofréncio, disléxico, com problemas de fígado e com uma mulher feiosa que usa botox há décadas. Não serve para nada, claro;

 

 

Se a FPF me quiser contactar para mudarmos as regras do jogo, eu dou os conselhos de borla, que não quero ser presidente nem ter bilhetes - apenas quero um serviço especial com motorista quando a Segunda Circular entupir para não ficar presa no trânsito.

Os homens de fato e gravata

amaralrita, 15.06.15

Há algum tempo que vos quero falar dessa espécie animalesca que abunda na sociedade portuguesa que é o homem de fato e gravata.

Eles são uma espécie curiosa, longe de estar em vias de extinção. São mais que as mães e estão em cada canto, a cada esquina, a espalhar o seu "charme" e a dizer ao mundo que nunca se esqueçam deles. Bah, odeio-os de morte.

 

Os homens de fato e gravata têm a vida mais simples de mundo. Fazem um curso qualquer e uma semana antes de irem para a Semana Académica já sabem que vão trabalhar para as Delloites desta vida. O jovem ainda nem fez exames e não sabe se a média de curso é de 12 ou 15 mas o mundo já anda desesperado para que ele vista o fatinho e comece a trabalhar.

Mal sabe do trabalho, o pobre coitado diz ao pai que precisa de um fato mas é a mãezinha que trata de tudo. Tem de ser feito à medida, um preto, outro azul escuro e mais tarde tem de se comprar um para o verão. O paizinho só se mete quando é para discutir as gravatas: pela mãezinha, levava uma de cada cor, com bolinhas e risquinhas, para que ele pudesse ter uma gravata sobressalente caso se suje à hora de almoço. Ainda estão mais uma hora a ver sapatos mas o filhote só quer comprar a t-shirt branca para poder levar para o Sudoeste.

 

E lá chega o primeiro dia de trabalho de uma existência bastante pacífica que vai durar anos e anos.

Ser um homem de fato e gravata é a coisa mais fácil do mundo. Tudo começa logo de manhã: a roupa já está preparada todos os dias, só tem de alternar o casaco de inverno e o cachecol com o parka e o guarda-chuva. Com sorte ainda consegue usar a mesma camisa branca três dias seguidos, porque quem é que vai notar mesmo? E nem me venham com a história da barba, que dá trabalho e tal, porque não dá, porque agora já é socialmente aceite um homem ter barba, logo qual é a dificuldade em aparar uns pelinhos na cara? Dificuldade é meter creme + primer + base + corrector + bronzer + blush + máscara + eyeliner + sombra + pó + whatever.

 

Já a viagem para o trabalho não envolve grande esquema: quem vai de carro para o trabalho, às vezes leva a pastinha só dar um look diferente mas os que andam por aí têm um look mais laid-back: carteira no bolso e mais nada. Os únicos acessórios permitidos são fones para ligar ao smartphone e um livro de fantasia que não seja muito maior que a mão - quando mais estranha for a capa, melhor.

 

Depois ele fecha-se no escritório à frente do computador a fingir que trabalha mas o seu verdadeiro trabalho só é feito na rua, em contacto com as pessoas, a mostrar que não faz nada de especial na vida mas que é super importante. Se no horário da manhã dá o seu ar de graça a fumar o cigarrinho de dez em dez minutos, na hora de almoço sai com os amigos todos em manada e juntos mostram toda a sua pujança. Enquanto as pessoas andam com a marmita atrás e comem da tupperware nos bancos dos jardins, eles aparecem no Atrium Saldanha, de mãos a abanar, à espera para comer um super pratão com tudo a que têm direito e ainda terem tempo para dois dedos de conversa com cafézinho a acompanhar. O mundo está em crise mas eles dispensam as filas para o microondas e mantêm-se fiéis aos menus acima dos 10 euros. Cuidados alimentares não é com eles porque a barriga de cerveja só aparece com os cabelos grisalhos, o Mercedes na garagem e os 5 mil euros na conta bancária todos os meses.

Depois do trabalho não são de papar ginásios, preferem as after-hours nos hotéis da Avenida da Liberdade, sempre com mais dois amigos e uma mulher, só para mostrarem que são afáveis e têm amigas. Fazer o jantar, ver televisão, lavar a loiça são tudo noções que não existem para eles, porque a vida está toda feita, não é assim?

 

Isto pode parecer todo um post cheio de preconceitos e estereótipos mas eu não tenho nada contra eles. Eles que encham as ruas de todo este Portugal que eu tou-nem-aí. Para aqueles que acham que eu tenho inveja, deixo-vos a minha verdadeira opinião sobre esta espécie: podem ser os maiores do mundo mas eu não gostaria nada de viver em Lisboa com 30 graus e não poder andar de sandálias e calções. Aquele fato escuro, aquela camisa branca com um tecido grosso, aquela gravata que aperta o pescoço, aqueles sapatos pretos fechados com as meias até ao meio da perna...ai a inveja que eu tenho de não ser um homem de fato e gravata.

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