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Agora a Sério

Um local sério para se falar das coisas sérias de todos os dias. Só para pessoas que se levam muito a sério.

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O cartão e o carro

amaralrita, 05.10.15

Sai mais uma fábula do livro de contos: a Rita estragou um cartão de débito.

 

O meu cartão de débito é invejado por todo o mundo porque é dourado. Mas também é matreiro. Há semanas em que anda sempre fora de casa e quando eu digo para ele ficar quietinho na carteira, ele tenta sempre esquivar-se para ir parar a um multibanco. É uma criança cheia de sonhos a achar que pode explorar este e meio mundo e que quando chegar a zeros não há problema nenhum.

Mas tenho de pedir desculpa porque não se deve falar assim dos mortos: é que eu matei o meu cartão de débito.

 

Ora uma pessoa quando conduz e vai à praia tem de sacar o cartãozinho para pagar a portagem na ponte, não é, e em vez de estar a abrir a mala, tirar a toalha, a água, a comida, os chinelos e a carteira até achar o cartão, uma pessoa deixa-o à mão, na viseira do condutor. Está perfeito e nem é preciso fazer mais nada...desde que não se esqueça de antes de fechar o carro levar o cartão para casa, não é?

 

Pois.

 

Houve um dia em que ele de facto não foi para casa. E o carro ficou a descansar, num tórrido dia de Agosto com temperaturas a oscilar entre os 36 e os 38 graus. A Rita segue a sua vida e no dia seguinte pensa em sair de casa: "ai com este calor só saio às 20h". Muito bem, Rita, acho que faz muito bem. Quando chegamos ao carro, metemos a viseira para baixo e está lá o cartão.

"Olha que engraçado, está cá o cartão, ainda bem que não precisei dele antes".

O cartão estava lá mas não como dantes.

Tinha ganho uma ondulação característica, como se tivesse ido ao cabeleireiro fazer beach waves. Agora sim, estava dourado, ondulado e com o chip a não funcionar. Eu tinha um cartão californiano que não podia mais surfar.

 

Então não dás dinheiro? E agora?

 

Ainda fui teimosa e tentei que ele pagasse as compras em algumas lojas - e a verdade é que meio torto ele lá se despachou mas as caixas não o queriam de volta. Ou ia bem vestido ou nada feito.

No dia do funeral, nem o consegui levar ao banco. Pedi um substituto mas não o consegui enterrar. Ficou embalsamado, dentro da gaveta, como recordação. Aqui fica uma última homenagem.

 

E não se esqueçam da moral da história: paguem a portagem com dinheiro.

 

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